terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Assusta-me




Um dia deixar de conseguir escrever. Deixar de gostar do que escreva. como se a imaginação tivesse um fim. Ou a forma de ver as coisas nunca mais ficarem em papel. Assusta-me um dia ter medo de escrever o que quero, como sinto ou deseje. Assusta-me que um dia deixe de ouvir a música que me acompanha quando escrevo. Como se todo o mundo fosse um enorme silêncio e o cursor do word está ali na minha frente a piscar. a piscar. a piscar. 

Há uns anos largos parti o braco. Parti-o três vezes seguidas. Tive todo um ano lectivo de braço ao peito. Logo aquele com que escrevo. Era puto. Durante um ano não era suposto andar de bicicleta ou skate. Mas andei. Às escondidas. E caí. Algumas vezes. Numa delas parti a cabeça para não ir com o braço engessado ao chão. Mas de todas as coisas que continuava a fazer escrever não conseguia. Não consigo desenhar uma letra que seja com o braço com que não escrevo. Não tinha computador na altura. era tudo a mão. O que tinha na altura era um braço incapacitado. Seria temporário. O que era o obsctáculo era uma questão física.

Mas e se fosse outra coisa?

São tantas as coisas que hoje tenho para escrever. Por vezes quero colocar tudo num único texto. Do meu texto. Do texto que eu quero. Com os erros que são os meus. Com palavras mal escritas, com frases quebradas. Como se soubesse que um dia tudo vai acabar. Será? Não enquanto ela sorrir. Enquanto ouvir a música que passa no rádio. Não enquanto tiver a costa alentejana. Não enquanto Nova Iorque estiver lá. Não enquanto as luzes de Paris estiverem na memória. Não enquanto poder pedalar em Hyde Park. Não enquanto as pessoas continuem a passar na rua. Não enquanto o gato preto continuar a miar.

6 comentários:

Sexinho disse...

E nem enquanto nós estivermos por aqui, ok?

R. del Piño disse...

Errrr, não me parece que isso seja sequer possível. As pessoas que gostam de escrever, fazem-no de um modo geral porque têm sempre muitas coisas para dizer. E não sei se te acontece, mas às vezes os pensamentos atropelam-se. A mim, sim. Há uns anos percebi que um dos meus momentos de maior inspiração era durante a condução. Mas claro, não podia escrever, certo? Então comprei um daqueles gravadorzinhos pequeninos, tipo à jornalista, bem catita e fofinho, de modo a poder clicar no "rec" e não perder uma ideia. Já deu muito jeito. Agora acontece-me ter boas ideias quando estou na cama, e apesar do meu marido já me ter dito que não se importava de acordar se eu decidisse falar para o gravador, ainda não o consegui fazer. Até porque prefiro sempre que me leiam, a que me oiçam... Mas enfim, se partires o braço com que escreves, lembra-te do gravador. ;-)

E disse...

Principalmente enquanto tiver neçessidade. Mas enquanto houver gente desse lado, também, claro ;)

E disse...

Sabes bem

E disse...

Sim, coisas para dizer ou gostar de esçrever. Uma coisa, por exemplo é que remete "falo" para quem lê. Mas sim para mim. Nao sei se fui claro.

O gRavado é bom, eu uso o do iPhone. Mas normalmente a minha ideia vem em forma de frase. Quase logo num parágrafo que depois logo desenvolvo.

Andy G. disse...

E continua porque isso faz-te bem :)