segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Au revoir Paris




- Amanhã vamos embora.
- Sim. Mas antes temos esta vista. O rio. E as cores dos prédios no outro lado. Douradas como a noite.
- Podemos dizer adeus a um daqueles barcos quando passarem.
- Podemos. E levantamos a garrafa e gritamos que estamos a brindar a Paris.
- Achas que vão compreender?
- Bem, haverá sempre um português. Estamos em todo lado.
- Dás-me um beijo.
- Dois.
- Só quero um.
- Porquê?
- Porque quero aquele beijo único, longo, doce, húmido. Que faz querer mais. Mas vou ficar a guardá-lo para depois.
- O que gostaste mais de Paris?
- É difícil dizer. Na minha cabeça ficou um postal animado. Cheio de imaginação. Mas um misto de tudo. As ruas, os museus, as pessoas.
- Paris ganhou-me, sabes?
- Vim para te fazer a vontade.
- Vieste porque quiseste.
- Sim. Mas porque quis vir cá contigo. É terrível isto de não querer quebrar mitos urbanos. Se tinhas de vir com alguém tinha de ser comigo. Não te podia deixar vir com mais ninguém.
- Isso é terrivelmente egoísta. Não sabemos o futuro.
- Exactamente. Terás Paris para sempre, porque já vieste, mas eu estarei sempre. E o amor é terrivelmente egoísta e irracional.
- Mas eu também não faço questões de ir a lado nenhum.
- Nem eu. 
- Já imaginaste. Ali, do outro lado. Camuflados pelas sombras pode estar um outro casal. Tal como nós. Sentados. Fumam um cigarro e fazem promessas de amor eterno. Podem ser parisienses. Podem não ser. Isso não interessa. E não nos vêm. Mas neste mesmo momento estamos todos virados uns para os outros. Mas nunca saberemos da existência uns dos outros. E eles, sempre que se lembrarem deste momento, vão-se lembrar de nós. Mesmo que não saibam. Seremos uma marca invisível.
- Tal como Paris. Sempre que me lembrar dela vou-me lembrar de ti. E sempre que me lembrar de ti vou-me lembrar do que vivi contigo.
- Sim. Mais ou menos. Com a diferença que somos visíveis um para o outro.
- Mas o que sentimos é invisível.
- Temos mesmo de partir amanhã?
- Infelizmente sim.
- Podemos voltar?
- Sempre que quiseres.   

3 comentários:

E disse...

Obrigado

Mary Jane disse...

Estive a ler esta viagem toda e valeu a pena, sobretudo para ler agora a resposta mais fantástica que uma mulher pode ler "Sempre que quiseres". Fora de brincadeira, Paris é uma cidade extremamente convidativa aos vossos olhos :)

E disse...

Obrigado. Acho que é terreno comum, a preferência conjunta, uma vez que eu sou NYC e ela Londres