domingo, 24 de fevereiro de 2013

Vendo-me por dois tostões: Morte aos ídolos de madeira que escrevem em pergaminhos amarelos


Volto sempre ao mesmo, porque me ajuda a ilustrar o que pretendo: Sagan dizia que escrever era uma actividade com um destinatário único na cabeça. E eu acho que acredito. Que é verdade. E ela diz-me que tenho duas formas de escrever. Aqui e nas tentativas de contos. Nas tentativas de romance. Passa-me a mão pelas costas, alegra-me quando me tira o cabelo do rosto e me beija a testa. Nem todos precisam de um romance para deixar uma marca. Que aqui os mundos abrem-se. Que o sonho nasce com a primeira palavra para se acordar para a realidade com a última. E que quando escrevo uma história, uma qualquer história, deixo os sonhos de lado e me concentro unicamente na realidade. Então, pergunto, onde está a diferença? Os teus textos são bonitos, essa é a diferença! Diz-me. E eu também acredito, porque é ela que me diz.

O que me concentra no que também acredito: a história serve a escrita, ou a escrita serve a história. Mas não me satisfaz com a minha dúvida. Eu gosto de biografias. Gosto de saber quem escreveu o quê e porquê. Gosto de Shelby. Breat. Wolfe. Roth. Maugham. Eça. Lobo. Burroughs. Kerouac. Acertaram à primeira? Ou não pensaram sequer? Escreveram. Apenas e só Como eu pensei que não gosto de virgulas. Ou apenas comecei a escrever sem elas. Como se fossem o entrava ao que quero. Mas eu sei onde está a diferença. Sei, tenho de saber, afinal sou eu que carrego nas teclas. Que empunho a caneta. 

Aqui não há ninguém. Não há narrador, não há personagem principal. Ou sou eu. Ou, como nome diz, Ego. o meu. O de alguém. Ou de quem a música triste de Yann Tiersen fala. Pode ser o Alex Kerner que sonha com a vida que dá à mãe. E isso faz toda a diferença. Porque quando há alguém. Há um nome. Um rosto. Mesmo que imaginário. Existe um passado e um presente. Talvez vá haver um futuro. Talvez, porque as incógnitas são muitas. 

O melhor sobre Pessoa. Aqui 

 E isto acontece sempre que atinjo a marca das 10 páginas. Quando chego ao momento em que a história curva a rua para continuar o seu percurso. Talvez não goste de histórias. Goste de personagens. Como gosto de pessoas. Gosto de ver pessoas e a observar. Talvez seja isso. Talvez. Talvez.
 

6 comentários:

R. del Piño disse...

Por acaso ñ acho que o exercício de escrita seja controlado por quem escreve. E a prova está em todas as vezes que te sentas para escrever algo, e uma personagem insiste em trazer a lume outras estórias, outros cenários. E tu não tens remédio senão seguir-lhe os passos, porque sabes que ela te vai levar a um lado que não conheces, mas onde queres ir.

E disse...

isso do que dizes de que por vezes o que quer-se soltar, tem de se soltar, e tu só tens de ir atrás. Eu tenho em regra, seja aqui, seja em contos mais longos, uma ideia. Não sei como vou lá chegar. mas talvez, admito, seja porque me falta o método. Mas lá está, eu funciono sempre à base de uma ideia. Uma concepção. Uma cena. Uma vez li uma reportagem sobre um escritor que admiro (um de tantos) e ele disse que só sabe como a história vai acabar e como ela começou. Pelo meio deixa-se levar. E eu achei essa perspectiva muito bonita. Porque ali, na sua frase, estava o gosto genuíno de escrever por escrever. Uma actividade solitária mas fantástica. Porque não se precisa de ninguém está-se com todos aquelas que se cria.

mas, o que está por detrás deste post, e em breve de um segundo, é uma conversa. Onde se fala de porque aqui escrevo de uma forma e nos contos mais longos de uma outra forma.

Silvia disse...

Well eu não sei escrever, o melhor texto que já escrevi (sem ser o académico) foi numa altura menos feliz da minha vida. digo melhor no sentido que foi o mais "sentido". Agora prefiro imagens, fotografias, esquiços. as palavras gosto de ler as dos outros. Funny thing is, escrevia mais quando lia mais também. Curioso é que não faço filmes e desses vejo que chegue... Brb comprar uma 8mm.

E disse...

Isso de escrever tem muito que se lhe diga. Um dos meus amigos- o melhor por sinal - é um dos tipos mais inteligente e cultos que conheço, escreve como ninguém. Consegue contornar as regras da melhor forma. E, diz ele, que odeia tudo o que escrevo (o bom das amizades sinceras é poder-se dizer tudo). No entanto, a minha professora do quinto ano dizia que eu sabia escrever. E a verdade é que cá estou a escrever. Não sei qual é a melhor escrevi até hoje. Mas talvez se aproveite alguma coisa.

Eu filmes faço-o na minha cabeça. E ficam por aí. Não tenciono filmar nada. Não tenho jeito.

Silvia disse...

!
por falar em filmes, where is it?

E disse...

Não gostei do resultado. Não gostei da música que escolhi. Está em concepção novamente.