domingo, 24 de fevereiro de 2013

Vendo-me por dois tostões: a conversa, o início, o rescaldo



Ela está à minha frente e sorri-me. Como o sabe fazer. A mostra perfeita de dentes com os olhos a brilharem na medida certa. Há quem não consiga sorrir. Faça caretas. Mas não ela. E pergunto-lhe, se tinha lido, se tinha gostado? Sim seguido de reticências é o que me responde. O que me faz lembrar a música New York I Love You But You`re Bringing Me Down. Um mistura de sim e não. Então, volto-lhe a pedir porque tinha reticências a seguir ao sim. Ela olha para cima. Para o seu lado direito. Como a pensar nas palavras. Organizava o que queria dizer enquanto eu ficava ali em silêncio. Li, diz ela, voltando ao início, mas ainda que sejas tu, não és tu. No blog és mais tu. falas do que gostas, como gostas. Nos contos mais longos é como se não tivesses o teu registo, é mais cru. Mais directo. Mais marginal. Mais mundana. Como se abríssemos porta de casa de cada dia e fosse um simples retrato. Em forma de palavras, é certo. No blog fazes sonhar. Embelezas mais o que escreves. As palavras vieram directas aos meus ouvidos e entraram-me no corpo e umas foram para o coração e outras para o cérebro. E não as consigo processar convenientemente. Sinto-as como um insulto, sinto-as como uma honestidade latente. Sinto-as como verdadeiras. E é isto que prevalece: A verdade! E o pior, não como isto acontece. E voltamos ao início. Ela está à minha frente e sorri-me. E ela também não sabe porque existe esta diferença.    

3 comentários:

Sue disse...

As minhas palavras foram muito mais rudimentares, mas a ideia era essa :)

R. del Piño disse...

Se calhar és tu na mesma, mas num registo diferente. Quem escreve nunca tem um só "eu". E ela pode gostar mais de um que de outro. Não quer dizer que esse "eu" mais mundano não seja realmente válido. Mas isto, claro, sou apenas eu a dizer, e eu só vim cá ver a bola.

Sue disse...
Este comentário foi removido pelo autor.