quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Ela Despe-se Em Palco



Chloe nasceu em Paris. O pai era português mas a mãe francesa. Vieram para para cá quando ela tinha 15 anos. Não queria vir. Paris era o centro do mundo. Não queria deixar aquilo. Durante semanas não falava com ninguém cá. Começou a pintar os olhos de negro e a deixar o cabelo para a frente dos olhos.  Cá, o casamento dos pais durou pouco tempo. Divorciaram-se. Ficou com o pai. A mãe voltou para Paris. Mas ela culpava-a por abandonar o pai e não quis voltar. Quando teve a oportunidade de voltar para a sua paris recusou. Como é mesmo aquele ditado, por vezes as coisas que desejamos acontecem mesmo, não é? Mas ela não quis o que sempre desejou. E culpou ainda mais a mãe por isso. O pai ficou a cargo dela então com 17 anos. Não sabia como lidar com ela. A forma que encontrou foi dar-lhe tudo o que podia. Tudo o que Chloe queria e o pai pudesse, ela tinha. Quando fez 18 anos viu pela primeira vez Arizona Dream. Disse ao pai que ia desistir da escola e queria ir aprender teatro. Não sabe porque aquele filme a marcou dessa forma. Ou se foi apenas um mero pretexto. Ao início o seu sotaque tirou-lhe algumas oportunidades. Mas naquela altura percebeu o poder do seu corpo alto e magro. Não precisava de se dar. Precisava de se insuar. Precisava de criar o sonho de que era possível terem-lhe. Com tempo tentou levar essa forma para o palco. E isso aliado ao seu sotaque tornou-a exótica. E as oportunidades apareceram. Por essa altura regressou a Paris de férias. Só viu a mãe uma vez. Não a consegue perdoar. Mas teve a certeza que Paris é a sua casa. Um dia vai voltar de vez. Quando lhe ofereceram o papel em que se tinha de despir no início da peça e assim ficar até ao fim não se incomodou. Há muito que se tinha habituado ao seu corpo. E em palco só tinha de olhar em frente. E olhou e viu um rosto que olhava para ela. Era eu. E ficou curiosa.