Chloe nasceu em Paris. O pai era português mas a mãe
francesa. Vieram para para cá quando ela tinha 15 anos. Não queria vir. Paris
era o centro do mundo. Não queria deixar aquilo. Durante semanas não falava com
ninguém cá. Começou a pintar os olhos de negro e a deixar o cabelo para a
frente dos olhos. Cá, o casamento dos
pais durou pouco tempo. Divorciaram-se. Ficou com o pai. A mãe voltou para
Paris. Mas ela culpava-a por abandonar o pai e não quis voltar. Quando teve a
oportunidade de voltar para a sua paris recusou. Como é mesmo aquele ditado,
por vezes as coisas que desejamos acontecem mesmo, não é? Mas ela não quis o
que sempre desejou. E culpou ainda mais a mãe por isso. O pai ficou a cargo
dela então com 17 anos. Não sabia como lidar com ela. A forma que encontrou foi
dar-lhe tudo o que podia. Tudo o que Chloe queria e o pai pudesse, ela tinha.
Quando fez 18 anos viu pela primeira vez Arizona Dream. Disse ao pai que ia
desistir da escola e queria ir aprender teatro. Não sabe porque aquele filme a
marcou dessa forma. Ou se foi apenas um mero pretexto. Ao início o seu sotaque
tirou-lhe algumas oportunidades. Mas naquela altura percebeu o poder do seu
corpo alto e magro. Não precisava de se dar. Precisava de se insuar. Precisava
de criar o sonho de que era possível terem-lhe. Com tempo tentou levar essa
forma para o palco. E isso aliado ao seu sotaque tornou-a exótica. E as
oportunidades apareceram. Por essa altura regressou a Paris de férias. Só viu a
mãe uma vez. Não a consegue perdoar. Mas teve a certeza que Paris é a sua casa.
Um dia vai voltar de vez. Quando lhe ofereceram o papel em que se tinha de
despir no início da peça e assim ficar até ao fim não se incomodou. Há muito
que se tinha habituado ao seu corpo. E em palco só tinha de olhar em frente. E
olhou e viu um rosto que olhava para ela. Era eu. E ficou curiosa.
2 comentários:
Excelente!
Obrigado.
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