segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Henry Miller, Praia, Nova Iorque E Um Foda-se

Estava a ler o Trópico de Câncer na praia. Que nesta altura está com lotação reduzida. Alguns turistas tardios que procuram preços mais apetecíveis. São jovens. Elas fazem topless. Eles exibem o esforço do ginásio. E eu leio. Ela tira fotografias. Eu nado e faço snorkeling. Ela mergulha e torna a pele mais dourada. Henry Miller, ou o narrador, a determinada altura diz que prefere Paris a Nova Iorque. De onde ele é. Isto depois de ter narrado as suas aventuras com prostitutas com dente de ouro e que são 100% dedicadas à profissão. Levanto os olhos e penso em perguntar-lhe qual é a cidade que ela prefere. Mas já sei a resposta. Como ela sabe a minha. Adoro Paris, mas morro por Nova Iorque. Henry Miller não concorda comigo. Paris é liberdade. Nova Iorque é uma prisão de prédios brancos e altos. Eu diria que Paris é beleza e Nova Iorque é poder. Paris é sensualidade. Nova Iorque é sexualidade. Cada um fode como quer, diria Henry Miller.

No meu primeiro trabalho veio um estagiário de Manhattan. Tinha a minha idade. Ficou a trabalhar comigo quando cá esteve. Eu alimentei a ideia de ir lá depois. Um género de intercâmbio. Mudei de emprego antes disso acontecer. O que foi bom, porque fui lá depois com ela. E não escolheria outra companhia. Teve paciência para me ouvir falar de como ali é um cenário daquele escritor. E aquele de outro. E mais informações de merda que eu tinha. Mas, o tal estagiário estava cá. Trabalhava comigo durante o dia e ia-se enfiar metade das vezes no hotel. Mas depois disse que ele tinha de sair e comecei a convidar o tipo. O tipo tinha bom ar. Era alto e louro. Uma confiança como só os nova iorquinos têm. E tinha também uns bons dentes. Foi com essa conjugação que dormiu com três advogadas e uma secretária lá do escritório. E eram bem boas. Fomos ao Lux. Ao bairro. Jantámos no Altis. Bebemos copos no Bairro Alto Hotel. Jantámos no Príncipe Real. Conheceu mais miúdas que depois levava para o hotel, o sacana. Consegui-as com promessas de um pequeno almoço na cama que não tinha de preparar. Sempre que combinávamos alguma coisa ele dizia que tinha de mudar de camisa. E era isso mesmo que ele fazia. Mudava de camisa. Uma boa camisa. E aparecia de fato mas sem gravata e a tal boa camisa. Eu ia-me mudar para uma t-shirt lisa e calçar os meus nike. E ele, na primeira vez, perguntou-me se era assim que nós saiamos. A determinada altura, um tipo tem de andar de fato ou, no mínimo, de camisa. É cool, dizia ele. Eu não soube o que responder a não ser que sim. E foi assim que aprendi a noção de Power Suit. E porque nos filmes eles saem sempre com camisas. 

Quando terminei hoje um capitulo levantei-me. Ia dar mais um mergulho. Ela continuava a tirar fotografias. A fazer testes. Tive de passar por um casal que davam beijos mesmo à beira da água. Ela de mamas ao léu e ele a entesar os peitorais. Um ritual de acasalamento que terá o corolário mais logo numa cama de hotel. Quando voltei à toalha seco as mãos e vou ver os mails no iPhone. Um da fnac. Nao fui escolhido para o concurso novos talentos de 2013. Henry Miller, este é para ti: Foda-se!

2 comentários:

Nancy Wilde disse...

Gostei tanto deste. Entesar os peitorais é tão faisão engatatão!

E disse...

É isso mesmo