Ninguém nos prepara para o fim de uma relação.
Por vezes, a tempos, preparam-nos para o fim do amor. Mas não de uma relação. Ninguém nos prepara para esse universo de sentimentos que não deviam existir no mesmo espaço / tempo.
Terminar uma relação, apenas a relação, é um mundo feio, solitário e perdido entre nós. Podemos perder-nos em muitos locais. E em quase todos podemos perguntar a alguém a direcção. Mas quando nos perdemos dentro de nós não há quem nos ajude.
As memórias vão-se acumulando e confundido. Será um sentimento ou uma memória boa. Não queremos esquecer as memórias. Fazem parte de nós. São parte de nós. De nós, em plural. Nossas. Eu quero ficar com elas também. Mas elas confundem-nos. A nós, plural. A mim e a ti.
Uma relação é uma combinação de dois. O fim da relação é o desencontro de dois. Quem tem razão? Quem é o culpado? Eu? Tu? Os dois. E a culpa. Ninguém nos prepara para a culpa.
A culpa de sorrir sem ti. A culpa de querer saber de ti. A culpa de que o mundo ainda existe lá fora. Para nós. Sim, nós, no plural. A culpa e a dor de saber quem alguém nos vai tocar. A mim sem seres tu. A ti sem ser eu. A culpa e a dor da pertença que já não existe. Deixou de existir. Deixou de ser meu. Deixou de ser teu. É a desconstrução do nós. É o eu. É o tu.
E se está tudo errado? E se é apenas um momento. E se é apenas um baixo num percurso de altos. O para sempre ainda existe? Ainda deixou o seu rasto e apenas temos de encontrar?
Magoar é a última coisa que se quer. Mesmo que isso implique que se sofra. Um pouco mais. Um pouco de mais tempo. Porque se ambos sofrermos torna-se mais justo o que não é justo. Justo... essa palavra que é injusta porque não devia ser utilizada.
Então, escolhe-se não se ser feliz. Não se procurar ser feliz. Porque não se merece. Merece-se a dor. A culpa. Merece-se ceder às pressões externas que nos fazem. As pressões de quem está de fora mas acha que sabe. Que percebe. Que também sente. E ninguém sente como nós. Sim, nós, no plural. Que são dois sentimentos diferentes. Por isso ninguém sente o mesmo que eu. O mesmo que tu. Ninguém. Nem nós. Um dia sentimos algo. No dia seguinte sentimos outra coisa.
E como se passam os dias?
São conjuntos de 24 horas. É um amontoado de tempo atroz. A mente ocupa-se de tudo o que consegue agarrar. Mas não te afasta. Não nos afasta. Está já de tal forma habitada que não separa realidades. O que é agora, foi ontem? O ontem é o agora? O amanhã será como? Não sei, não sei e não sei, cala-te! Gritamos com a nossa mente. Mas ela é surda à nossa voz. Continua e continua e continua e continua...