domingo, 12 de julho de 2015

Corre o ano de 2015 - I

É difícil olhar para o espelho e ver uma coisa diferente do que imaginei quando era puto. Bem, mas que se lixe, penso que seja assim com toda a gente. Pelo menos nestes tempos. Para os meus pais sou bem sucedido. Que merda, sou bem sucedido porque tenho um emprego (de merda) e moro em Lisboa. Que bom. Os mercados financeiros não são como o Wall Street. Os fatos são comprados no freeport e apertados no alfaiate aqui no bairro como a GQ diz que deve de ser. Acho que sou um tretas, um show off. Há uns meses, cansado de ser um pinguim igual a muitos, fiz uma tatuagem. Acho que abusei. Tatuei todo o braço esquerdo. Não dá para ver no trabalho. Mas tenho orgulho que me passeie no escritório sabendo que por baixo sou diferente daquelas almas velhas e tristes. Olho com mais confiança para elas e tudo. Algumas são jeitosas. Imagino-lhes a roupa interior. Talvez seja para elas a boost de extra confiança. Ao telefone com alguns clientes, investidores de milhões, humedecem os lábios. Salivam com os milhões do outro lado. Vendidas. Dão pequenos sorrisinhos. Gargalhadinhas pequeninas com as suas boquinhas. Dizem que depois acertam pormenores do contrato no almoço. São eles que pagam, claro. São sempre os clientes que pagam.

A meio de todos os dias preciso de ouvir música e esquecer que estou ali. Ligo ou youtube e oiço "where is my mind". Gosto da versão dos Placebo ao vivo com o Black em pessoa em palco. Sortudos dos que assistiram ao vivo. Ser crescido não é de perto nem de longe como as séries de televisão mostravam. Menos a máquina de café. está sempre por lá. Trabalha-se mais na máquina de café. fazem-se engates consumados no piso dos estacionamento. Nove horas da noite e um carro abana a suspensão. A miúda do 5 piso fode com o tipo do 3 piso. Em que máquina de café se terão encontrado?

Eu sou igual a elas. Às minhas colegas. Riu-me ao telefone. Pergunto pela mulher e pelos filhos. E o carro novo, anda bem? Sei o handicap de cor, a maior parte é uma merda, jogam, ou carregam os tacos, porque é bem. O Golf é o Ténis dos anos 80. Mesmo que se odeie. Ao menos não têm de andar de calções e mostrar as pernas brancas de galinha que suportam barrigas proeminentes. O iphone toca. O Pedro está a ligar-me. Quinta-feira, vai-me perguntar se quero ir ao Lux. fazemos quase sempre o mesmo. Não sei porque ainda nos ligamos e não nos encontramos simplesmente lá. Quando atende diz que já falou com o resto do pessoal. O pessoal que é igual a nós. Na casa dos 30 e mortos de expectativas. Alguns piores, desempregados. Os outros empregadinhos. Mas há sempre dinheiro para o Lux. Há que conhecer miúdas. Afinal, o Tinder é fixe, mas em carne e osso é sempre melhor.

2 comentários:

Lia disse...

A triste realidade deste ano de 2015...

CAP CRÉUS disse...

Parecemos umas ovelhas, é o que é...