terça-feira, 14 de abril de 2015

Amor escreve-se em braille

Há uns dias fui para o trabalho a pé. Naqueles dias de sol. E, pelo caminho, enquanto pensava em mil coisas, e nem eram ainda oito da manhã, pensei na frase que está ali no título. Tenho de a anotar, disse para mim mesmo. Não o fiz. Mas ela ficou comigo. É tão simples. Tão banal. Tão cliché. Tão frase de filme rasca. Mas eu gosto dela.

Nesse mesmo dia, à vinda para casa, já escuro, passei por um casal que discutia. Mas iam-se tocando à medida que falavam. O toque era o que os aproximava. Não sei nem me apercebi porque discutiam. Mas aquele toque...

Beijar é tocar. Abraçar é tocar. Fazer amor é tocar. Dar as mãos é tocar. Foder é tocar. Amar é tocar. Escreve-se em toques. Pontua-se a saliva. Discursa-se em gemidos e vive-se em presença de pele em pele. Não são palavras. Não são textos. Não são sms a dizer gosto de ti. Em emails que terminam em amo-te. Isso são caracteres. Conduções eletricas que terminam em ecrãs de portáteis. De smartphones que fazem tudo mas não amam de volta.

Mas, o toque é frágil. Pode ser cínico. Pode ser uma ponte de fios quebradicços. O toque implica proximidade. A distância é o não toque. E o amor não é amonipresente. Tem riscos tem falhas

A traição é o risco de amar. Como a perda do capital investido num sociedade de quotas que se transformou em anónima e nenhum sócio conhece mais o outro. Afastaram-se. Não se tocam mais. É um virar para o lado, estender o braço e abraçar lençol. O amor foi-se embora de madrugada. Deixou uma cama vazia. Um coração abandonado. Um toque que deixou apenas marcas no braço onde os dedos estiveram uma última vez.

2 comentários:

Mam'Zelle Moustache disse...

Por vezes (raramente, é certo), o que há de mais simples, banal e até cliché é também o que é mais certeiro e verdadeiro.

(Fico fula contigo quando desapareces daqui por tanto tempo, sabias? ;D)

Anónimo disse...

tocar ao bicho