sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Ao jantar naquele dia: como nascem as novas relações? (inspirado em acontecimentos verídicos)




No café de todos os dias está uma miúda belíssima. Gira, com estilo. No sítio onde se almoça todos os dias um tipo com pinta. Tem um bom corte de cabelo e ombros largos. Mas, a faculdade já acabou. Já acabou os dias em que amigos de amigos saiam todos juntos. Havia sempre mais alguém. Alguém novo. Um nome novo a colocar numa cara. Num corpo. Agora não. O trabalho é 5 dias por semana. De manhã para o trabalho, no fim o regresso a casa. Os dias arrastam-se até ao fim-de-semana. Onde há um jantar, copos e o que o corpo aguentar. Um amigo, mais outro e alguém leva conhecidos com a promessa de uma noite divertida. A questão: a empatia e a noção de beleza será relativizada pelas poucas oportunidades de conhecer pessoas novas?

Alguém, agora está sozinho, em frente do sofá com a Playstation ligada num jogo de Shoot 'em up. Amendoins em cima da mesa e uma garrafa de vinho tinto aberta.  E eu faço companhia no momento de luto relacional. Em que há que reaprender a ser um só. Acordar ao lado de um pedaço de lençol vazio. Não há nada a dizer, apenas estar presente a amparar quando pedem. Porque é aprender a sair para a rua quando apenas passou um pela porta do prédio. Como se vai marcar aqueles 22 dias de férias? Onde se vai no sábado de manhã? É ficar enrolado nos lençóis e esquecer que há dois dias até ser segunda-feira.   

Num jantar são seis em redor de uma mesa. Naqueles restaurantes italianos em que a luz está adocicada. Elas falam de um tipo que meteu conversa com uma colega. Não interessa se é giro. Se tem pinta. O que faz ou como estava vestido. A primeira reacção, a lata que teve. Oiço em silêncio, admiro o tipo. Enquanto alguém continua a jogar Playstation no outro lado de Lisboa. Por baixo da toalha branca envio uma SMS, “devias ter vindo”.

A miúda do café está apenas à distância de um “olá”. O tipo do restaurante à distância de um “sorriso”. Existem novas possibilidades. Existem novas realidades. Mas falta a coragem. Falta a percepção de que as coisas são diferentes. “E tu, o que fazias?”. Não sei. No outro lado do Atlântico a actualidade inverteu as regras. Ou o mundo perdeu o glamour, acabaram os “dates” e nasceram os “hang outs”. A internet veio permitir um nascimento de relacionamentos novos. Veio permitir uma realidade virtual em detrimento da realidade espacial. Mas todos querem mais no menor curto de tempo. O poder de compra reduzido aniquilou os jantares e os cinemas. Mas inovou na imaginação. Nasceram festas com o único propósito de estar com aquela pessoa que se sabe que é conhecido do amigo que tem o colega de trabalho. Ou não?

O iPhone toca The XX como toque. Atendo. “Convidei-a para café, aquela miúda do café. Eu sei, parece redundância, mas é verdade. Ela estava ali a pedir um café na Padaria Portuguesa mesmo ao meu lado. Deixou cair o pacote de açúcar e eu apanhei. Pensei, foda-se, o pior é rir-se da minha cara. O que me obrigaria a escolher outro café. Mas não, aceitou. Mais logo vamo-nos encontrar no Kaffeehaus”. Não sei que responder, um simples “boa” parece curto e insonso.

No outro lado do Atlântico são menos 5 horas. Quando forem cinco da manhã em Lisboa será meia noite em Brooklyn. Ela vai entrar naquela festa em Williamsburg. Ele vai estar à espera. Pediu para que a convidassem. Ela sabe que pode conhecer alguém. São poucas as oportunidades. Vai escolher um modelo inspirado em Alexa Chung. Durante a tarde vai passar pela Barneys para uns acessórios com um salto às lojas vintage no SoHo.   
  

“I’ve seen men put more effort into finding a movie to watch on Netflix Instant than composing a coherent message to ask a woman out,”
Anna Goldfarb, 34, an author and blogger in Moorestown, N.J.

It’s like online job applications, you can target many people simultaneously — it’s like darts on a dart board, eventually one will stick,”
Joshua Sky, 26, a branding coordinator in Manhattan

4 comentários:

Mary Jane disse...

Maravilhosa descoberta este blog :)

E disse...

Obrigado. Podes voltar sempre que quiseres.

eu... disse...

Será que pensamos todos o mesmo ao passar por essa situação?

E disse...

Eu acho que sim.