quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Ele ama Ofélia





Percebe que o que sente por Ofélia é como um sentimento de vislumbre de um Portugal que tudo conquistou. Aquela figura pequenina e dócil de Ofélia representa o seu Portugal perdido. Um país meigo e terno que por sorte, audácia e coincidência conquistou o mundo. Mas Ofélia fica longe. Passa todos os dias pela empresa onde trabalha. Passa todos os dias pela casa onde Ofélia vive. Passa todos os dias por onde Ofélia irá passar. Procura nas paredes o seu rasto. Procura no vento o seu perfume. Não a encontra. E tenta esquecê-la na bebida. Tenta esquecê-la nos elogios aos seus trabalhos. Na bajulação hipócrita de quem perde tempo a ler o que escreve. Nada disso lhe interessa. Um café, um copo e papel e caneta é tudo o que quer. Até que ao chegar a casa tem uma nova carta. Percebe logo de quem é pelo peso do envelope. Percebe logo que Ofélia escreveu-lhe. Demora dois dias a abrir o envelope. Durante dois dias fica sentado em casa à frente do envelope. Ali, naquelas palavras que ela lhe escreveu está a direcção das próximas decisões. Tenta convencer-se de que são decisões, mas são orientações que o destino lhe dá. Mas finge não acreditar. Voltam a ser enamorados no final da carta. Quando lhe escreve de volta diz-lhe que Lisboa foi escura nos últimos meses. Recomeçam os beijos. Recomeçam as cartas. E recomeça um turbilhão que afasta-os um do outro. O que é diferente atrai-se mas nunca chega perto. O amor não vence tudo. O amor é trágico. Porque o amor não quer finais felizes. E amor apenas lhes concedeu quatro meses até à ruptura pela diferença. Afastam-se com beijos de simpatia. Afastam-se com o coração um do outro no peito.

2 comentários:

Mary Jane disse...

Não sei o que é mais magnético, se a fotografia (sou vidrada em bons retratos e de máquina na mão só me vêem a fazer retrato) se o texto que escreveste.

E a tua história, verdadeira ou criada pela caneta, cruza-se tanto com uma já vivi. Talvez por isso achasse que já te conhecia.

E disse...

Gosto tb de retratos.prefiro-os às paisagens bucólicas e coisas que tais.

É inventada, mas começo a ter curiosidade de saber quem ê essa pessoa de quem falas