Nessa noite Cécile esperava-o no hall depois de
pedir que o informassem que tinha chegado. Desceu com o cão, com calças de fato
de treino, ténis e camisa. Não se tinha mudado. Ela perguntou-lhe onde ele
queria ir. Ele não sabia, afinal não conhecia nada. Mas um sítio onde pudesse
levar o cão que se chamava Napoleão. Ela conhecia um sítio com uma esplanada
interior, podiam tentar. Ele quis ir a pé. Ela não se importou, mesmo que
tivesse de saltos altos. Na rua ele acendeu de imediato um cigarro depois de
lhe oferecer um. Recusou, não gosta de fumar a andar. Não falaram muito. Ela
ficou a saber que ele é do sul de Portugal. Que o livro é a história da sua
família. “Tal como foi, não inventaste nada?”, perguntou-lhe a determinada
altura. Ele procurou o tabaco mas ela avisou-o que apesar de ser uma esplanada
não podia fumar. Sentiu-o ficar desconfortável antes de responder. Disse que
sim, inventou um bocado. Há bocados que não se lembrava como tinham acontecido.
“Por vezes a memória confunde-se com o que queremos que tivesse acontecido, ou
com aquilo que acreditamos que foi o que aconteceu, que acabou por acontecer
mesmo”. Cécile começou a sentir-se atraída por ele. Pelos olhos que tinha quase
sempre cerrados. Havia algo como uma recusa enorme em querer ser um homem
adulto. Havia tanta ingenuidade na forma de falar e estar.
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