terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Foram jantar os dois




Nessa noite Cécile esperava-o no hall depois de pedir que o informassem que tinha chegado. Desceu com o cão, com calças de fato de treino, ténis e camisa. Não se tinha mudado. Ela perguntou-lhe onde ele queria ir. Ele não sabia, afinal não conhecia nada. Mas um sítio onde pudesse levar o cão que se chamava Napoleão. Ela conhecia um sítio com uma esplanada interior, podiam tentar. Ele quis ir a pé. Ela não se importou, mesmo que tivesse de saltos altos. Na rua ele acendeu de imediato um cigarro depois de lhe oferecer um. Recusou, não gosta de fumar a andar. Não falaram muito. Ela ficou a saber que ele é do sul de Portugal. Que o livro é a história da sua família. “Tal como foi, não inventaste nada?”, perguntou-lhe a determinada altura. Ele procurou o tabaco mas ela avisou-o que apesar de ser uma esplanada não podia fumar. Sentiu-o ficar desconfortável antes de responder. Disse que sim, inventou um bocado. Há bocados que não se lembrava como tinham acontecido. “Por vezes a memória confunde-se com o que queremos que tivesse acontecido, ou com aquilo que acreditamos que foi o que aconteceu, que acabou por acontecer mesmo”. Cécile começou a sentir-se atraída por ele. Pelos olhos que tinha quase sempre cerrados. Havia algo como uma recusa enorme em querer ser um homem adulto. Havia tanta ingenuidade na forma de falar e estar.

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