- Já
viste, nada barato, o café.
-
Estás nos Campos Elísios. Não podia ser menos.
- Já
as viste? Lindíssimas. Elegantes.
-
Queres que olhe para outras mulheres?
-
Não sejas tonto. Aqueles sapatos de saltos maiores que qualquer um que tenha
em casa. Sinto-me uma maltrapilha ao pé delas.
-
Impossível.
-
Sério! Aqueles cabelos bem tratados. Cumpridos, sedosos. Já começa a
cair a noite mas continuam a esconder-se por detrás dos óculos escuros.
-
São máscaras. Porque não são pessoas. São imaginários. Que te criam na cabeça.
Mas não é só a ti. Competem com as outras mulheres. Mas também com os homens. São
mulheres inacessíveis. Mesmo aqueles homens que estão com elas. Com as suas
calças de vincos e dois dedos acima do tornozelo. Esta cidade tem figurantes.
Pagos para criarem esta impressão em nós. Em quem a visita. Aquelas mulheres
que ali vês. Aquelas mulheres de pernas intermináveis não têm um nome. Não têm
uma profissão. Não tem uma vida. Têm uma capa. Uma fachada. Um imaginário que te transmitem.
-
Ah, sim? E então? Quando saírem daqui? Quando entrarem nos seus apartamentos.
Naqueles prédios bonitos. Com as janelas nos telhados. Com vista para o rio
onde bebem um copo de vinho tinto?
-
São outras mulheres. Lindíssimas, com certeza. Mas não estas mulheres. Estas
não têm nome. Em casa sim. Têm uma história também.
- E
têm namorados? Maridos?
- Terão
tudo. Umas terão namorados. Uns que são bons namorados. Que lhes oferecem
presentes. Ou simplesmente lhes digam todos os dias que gostam delas. Como
maridos que eventualmente terão.
- E aquelas que têm maus namorados. Ausentes. Que não lhes ligam?
- Isso
é só um pouco do que podem esconder. Porque lhes podem também enganar. Sair todas as noites. Ou
dizerem que têm trabalho e chegam tarde.
-
Como se engana estas mulheres?
-
Não estas. As que são quando chegam a casa.
- E
haverá aquelas que não têm nada disso.
-Claro! Naqueles
apartamentos que dizes, bebem vinho tinto de olhos tristes. Porque não têm com
quem se deitar. Não têm quem amar. Não têm nada.
-
Nada de beijos molhados e abraços fortes.
-
Nada! Não têm amor. Não têm paixão.
2 comentários:
Só não estou de acordo com a categorização que fizeste daquelas mulheres de forma genérica. Alguma delas será muito mais! Mas gosto do facto de se construir uma história a partir de alguém para quem se olha.
É sempre uma ideia que tive. Tive-a pela primeira vez em NY e depois em paris, não é colocar todas no mesmo saco, mas até que ponto aqueles mulheres são de facto as mesmas mulheres que em casa despem toda a produção. Será que elas próprias se sentem diferentes?
E eu faço histórias com tudo. Umas vêm para aqui. Outras não.
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