sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Mata-me, agora! Adeus, Chiado. Hello Hollywood


Como todos os sítios, como todas as cidades, Lisboa tem o seu Chiado. Aqui chama-se mesmo Chiado. Noutros sítios chamam-lhes outras coisas. Mas é um Chiado. Um sítio reduzido. Um local delimitado pelas suas gentes. É uma coisa antiga isto. Vem nos livros, está na história. Nesses sítios não há muito para ver. Há gentes para ver, é isso. As miúdas são giras e eles esforçam-se para ter pinta. Há artistas. Pelo menos parecem artistas. E eu sou apenas mais um tipo que aí anda. Bebe cafés nos cafés onde estão os residentes da zona. Estes residentes que reclamam a posse destes sítios. Como se fossem os seus habitats naturais e não da Madragoa. Ou outros locais distantes de onde vêm. Aqui tudo parece ser bonito e adequado. Mas vou ficar cá por pouco tempo. Vou deixar isto àqueles residentes. Bonitos, sofisticados. Aqueles que passam cá o dia mas depois vão dormir a Telheiras.

Vou embarcar para Hollywood. Vendi a alma ao Diabo e ele vem cobrar-me o negócio ruinoso que fiz. Já sabia que tinha algum jeito para moldar a verdade. Mas tenho algum preconceito com o fingimento. Não consigo. A pele do rosto não acompanha a minha necessidade de sorrir quando quero encobrir um vómito. Acho que não me vou dar por lá muito bem. Mas negócios, são negócios. E sou um traste a negociar. negociei com o Diabo a minha alma e perdi. E o que estava em cima da mesa? tenho vergonha de admitir. Sei que lá, em Hollywood, elas são plásticas com grandes mamas. Sorrisos durante 8 horas e caras de pato noutras 8 horas, as restantes um misto. Eles são todos morenos e com músculos redondos. Já fiz a mala. Levo só uma escova de dentes. Acho que é o cúmulo do luxo, viajar sem nada. Arranquei das páginas amarelas o número do Moody e do Chinaski. Tentei ligar-lhes para saber se podia aparecer durante a próxima semana. Não sei quem me atendeu, mas disseram o mesmo, que estavam bêbados. Talvez seja a desculpa daquele lado. Uma espécie de "estão na casa-de-banho" que parece menos embaraçante. Porque naquele lado nunca se sabe o que está a acontecer no sítio que foi feito para lavar a casa, dar uma mijinha e tomar banho.

6 comentários:

Mary Jane disse...

Isto é só lírico, não é?

E disse...

Conhece a imaginação fronteiras?! ;)

Silvia disse...

Ahahahah Quase que me engasguei com a parte do "Aqueles que passam cá o dia mas depois vão dormir a Telheiras.". Pior sítio em Lisboa onde já vivi. Não consigo mesmo gostar daquilo.

E disse...

Telheiras veio mesmo ao calhas quando estava a escrever... Mas tem uma razoa, no findo :p

Uena disse...

Vim aqui espreitar e saio ofendida.
Adoro morar em Telheiras. Humpf!

E disse...

Hahahah
Nem me. Lembrei, foi um bairro que me veio a cabeça, podia sempre dizer pontinha ;)