domingo, 3 de março de 2013

Chamaram-nos Selvagens. Depois crescemos







Dos muros brancos do colégio para o mundo. Fugimos todos juntos uma vez. Um dia de inteira liberdade deu origem a uma alcunha. Discussões. Castigos. Fama de não haver futuro para quem moldava as regras à própria vontade. Ainda que nunca houvesse maldade. Quando somos putos o mundo é um reino. Só temos de saber ser Rei. Depois crescemos. Deixamos a farda de camisa branca e as calças cinzentas. Deixamos os riscos ao lado que nos impõem. A barba cresce por cima das cicatrizes de quando acreditávamos que resólviamos as coisas pela força. Mesmo quando os outros eram maiores. Mesmo quando os outros eram mais fortes. Mesmo quando os outros eram mais velhos. Mas ninguém nos podia levar a BMX cromada. Os casacos, não nos importávamos.

Sábado entrei no bar de luzes cor de vinho. Com candelabros com velas douradas nas paredes. Depois de tocar à campainha e esperar. Um sobretudo preto com um tipo lá dentro sem sorriso abriu-me a porta e entrei. Todos estavam lá. Todos com copos de vinho tinto em cima da mesa. Jogavam fumo dos cigarros para o ar. Todos tínhamos ténis calçados. Nike, New Balance, Puma, Adidas.Todos escrevemos. Eles estão por aí. Eu sou o melhor deles. Cada um deles é melhor que eu. Somos ainda selvagens. De cara fechada para quem não conhecemos. Não há regras quando as palavras vêm para o papel. Ninguém é o que quando éramos puto queríamos ser.

Vais ser o quê quando fores grande? Perguntado no jardim do meio da cidade com as bicicletas deitadas ao nosso lado. Eu quero ser o melhor jogador de sempre. E tu? Quero ser advogado! Eu quero ser como o meu pai, engenheiro. E tu? Não sei. Então, não sabes porquê? Não sei. Tenho tempo. Estúpido!

Nenhum joga à bola. Nenhum é advogado. Nenhum é engenheiro. E alguém já sabe o que quer ser: Feliz!

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