New York, I love you, I miss you

A minha historia com Nova Iorque começa cedo. Ou começou. Começou quando fui levar o meu pai ao aeroporto há muito anos atrás. Era um puto que ainda andava com a mão na mão da minha mãe. Depois voltávamos para casa e esperávamos que ele nos telefonasse. Pai, como é a cidade? Filho, é enorme! E esperava que ele voltasse e me mostrasse como era enorme. Contou-me imensas histórias. Histórias que entram na folha dos mitos quando crescemos. Descreveu-me uma Nova Iorque que já não existe. Onde a rua 42 era ainda lugar de putas, chulos e drogados. O Bryant Park começava a ter uma outra vida. Noutros anos tinha habitantes de olhos meio fechados e com a vida a fugir-lhes a cada respiração. Teve de fugir quando quiseram a sua máquina fotográfica. Uma máquina grande que hoje ainda está lá em casa. Correu imenso dessa vez. Entre ruas que não sabe o nome. Estava no Bronx. Falava-me de uma cidade onde cada pessoa era uma pessoa. Onde executivos andam de metro. Onde mulheres de saltos altos atravessam as avenidas indiferentes aos olhares. Onde turistas sonham e recém-chegados esperam vencer. Onde pretos de Afro abundantes ouvem rádio ao ombro. Para cada história uma foto. Para cada recordação um álbum.

Anos mais tarde foi a minha vez de ir e ele levar-me ao aeroporto. Também ele com a mão na mão da minha mãe. Mas enquanto eu era, na altura, uma amor-dependência. Ele é um amor de quem partilhou uma vida. E ele esperou que eu ligasse. Filho, então, como é a cidade? Pai, tinhas razão é enorme! De comboio do aeroporto até à cidade. Subir as escada até à rua e gente. Gente e mais gente. E ainda gente a mais. Carros de bombeiros vermelhos como nos filmes. Subir para norte e ver Carries e Blairs a apanharem o metro de mão no ar. Hipsters de barba longa com revistas e livros debaixo do braço. E eu. Ali. Com uns Vans nos pés e um hoodie por cima da cabeça.