quarta-feira, 17 de abril de 2013

O telefone tocou e era Hedi Slimone



Anda beber um copo, disse-me mal atendi. Olhei para o relógio em cima da mesa-de-cabeceira. Ela continuava a dormir. A respiração era calma e certa. Com os olhos mal abertos vi o nome do ecrã do iPhone. Estava a dormir, respondo com a voz arrastada. Estou cá fora à tua espera, despacha-te. Sai para a rua com um hoodie e umas calças de ganga que encontrei às cegas. Hedi estava inclinado à porta do prédio. Vestido todo de preto. Parecia uma figura de uma das bandas indie que fotografava. Tinha uma Nikon a tiracolo. Assim que me viu deu-me um casaco de cabedal preto. O que é isto?, perguntei. Veste-o. Com sono e quase automaticamente vesti. Era um casaco de cabedal da Saint Laurent Paris. Assim que o visto oiço disparos. Coloco a mão à frente da cara e peço para que pare. Ele atende e volta a colocar a máquina a tiracolo. Depois fomos ao Bairro Alto. Ali para o lado do piores bares. Onde gente obscura da noite se arrastavam pelas paredes. Entramos e eu peço um café. Então, pergunto-lhe, o que fazes a esta hora? Tiro fotografias, diz-me. Tiro-te fotografias. Para a campanha. Admirado e ofendido digo-lhe que não autorizei. Levanta a mão com um gesto de quem lhe está a maçar, ainda, diz, ainda não deste. Quando fores a uma apresentação do livro vais usar as roupas que te vou dar. Vais ser um escritor rock. Apoio a cabeça nas mãos agastado. São três horas da manhã. Ouve, digo, nem livro tenho. Volta a fazer o gesto, pormenores, diz-me. Mas tu foste contratado para levares a coisa mais à frente ou para venderes a imagem? Encolhe os ombros. Olha, diz-me, faço o que gosto. Posso sempre voltar para as fotografias.

2 comentários:

Gija disse...

Isso é que é um sonho á maneira!! :)

E disse...

;)