Falta-nos um Truman Capote

Talvez porque nos falta outras coisas. Porque, se uma jovem rapariga da alta sociedade de Lisboa conhecesse um pobre jovem sem talento ou sorte. E se o encontro tivesse lugar no parque de estacionamento do Centro Comercial Amoreiras quando ia para o carro depois do ginásio? Era apenas, e só, mais uma história. Mas se essa história fosse escrita? Cheia de noites quentes, madrugadas no Urban Beach ou no Tamariz? E idas à casa dele na Madragoa era uma obra menor. Cheia de lugares comuns e romances cheios de marcas mais que beijos. Cheia de páginas de letras e cheia de brilhantina mais que glamour.

Talvez porque nos falta essa alta sociedade mistificada. Onde a mobília nórdica enfeita a casa e não é do IKEA. Talvez porque os jovens sem talento ou sorte são vistos como coitadinhos. Mas esta foi a premissa de “Summer Crossing”. O livro “existe/não existe” de Truman Capote. Editado em 2005 conta aquela história. Mas no local onde ela poderia de facto acontecer. Ou onde acontece nos sonhos de muita gente e continua a fazer de Manhattan a ilha mágica. Uma jovem socialite conhece um jovem judeu num parque de estacionamento.

E agora, parece que vai para onde vão as obras americanas das golden ages. Scarlett Johansson vai realizar e todos vão ver aquilo que esteve perdido. No meio disto tudo, acho que a ligação entre Scarlett e Truman faz algum sentido. Ela é, à sua maneira, uma socielite. Nova Iorquina já era desde nascença. E se ele a tivesse conhecido, não me surpreendia que a tornasse sua musa. Afinal, eles movem-se nos mesmo círculos. Ainda que separados por anos.