sexta-feira, 28 de junho de 2013

Dançamos todos n`O Fio da Navalha


Almost all the people who’ve had the most effect on me I seem to have met by chance, yet looking back it seems as though I couldn’t but have met them
 


Maughan transportou-se a si mesmo, transformando-se numa personagem que está presente e se arrasta em todo o livro. Como se quisesse perpetuar-se para sempre. Ele, Maughan, a personagem, é perfeitamente dispensável, não fosse o caso de a história ser contada do seu ponto de vista. E assim nasceu o seu último grande romance. Viria a escrever apenas mais dois. 
 
A Servidão Humana foi, durante anos, o meu livro preferido. Este, um dos eternos segundos. Alias Maughan não se achava um escritor de primeira. Mas um dos bons da segunda linha. Eu gosto de underdogs, por isso ele é o primeiro para mim.  Mas depois reli este. E este é agora o meu livro preferido. Larry queria o sentido da vida. Pelo menos da sua. Elliot queria viver a vida. Pelo menos a sua e nos padrões da sua condição. Ou aquela que entendia ser a sua condição. E ambos são as personagens mais encantadoras d'O Fio da Navalha. Mas são também Maughan. Ou a sua personalidade em vários aspectos. Larry vê no misticismo oriental um caminho para a liberdade e o conhecimento. Podemos ver Maughan pelo tempo passado no oriente. Elliot vê no luxo e no prazeres mundanos a sua companhia, ignorando a companhia feminina. Podemos ver Maughan num dos assuntos que os biógrafos mais bisbiolheteiros sempre tentaram desvendar: a sua suposta homossexualidade.
 
Estas duas personagens são as centrais em todo o livro. As restantes secundárias. A história de Larry é o mote do livro. A de Elliot uma espécie de descompressão de Maughan. E estas duas personagens repelem-se pelos gostos, pelos objectivos. Mas estão presentes do início ao fim. E têm o fim. Terminam. Têm closer Tal como o autor. Um dos temas maior do livro é o amor. A diferença para a paixão. A importância do homem no amor. A importância do amor no homem. Elliot não o conhece. E Larry, numa única passagem, num única folha, com uma frase, amou uma só mulher. E não é aquela que todo o livro parece indicar. Ainda que essa mulher o ama de verdade. Ama-o ou está apaixonada? Qual a diferença? A diferença está na conversa que Maughan, o autor e a personagem, tem com Isabel, outra personagem. O outro tema é o sentido da vida. E como ela é diferente de pessoa para pessoa. Seja porque queremos entender o conhecimento. Seja porque queremos um quadro daquele grande pintor. Seja porque a religião é importante. Seja a interpretação do Absoluto. Seja a contribuir para a construção de uma igreja. Até aqui Larry e Elliot são diferentes. Mas no fim, o encontro com o criador.
 
Maughan gosta de todas as personagens. Todas, sem excepção. Ele que as crias com virtudes e defeitos é cruel na sua análise. Mas por todas nutre um carinho genuíno. Porque todas têm sempre algo bom. Como se não existissem más pessoas. Apenas vidas diferentes.
 
E tudo isto torna o livro um excelente livro. Uma viagem pela vida das personagens. Pelo cruzamento de opiniões. Por uma busca de conhecimento e amor. Mesmo quando somos confrontados com a morte num rio. E Larry apercebe-se disso.  

2 comentários:

Miri* disse...

Dos livros que mais gostei de ler o ano passado. Muito muito bom!

E disse...

Não do ano passado, mas de sempre. Já o li mais que uma vez. Bom, mas bom.