quinta-feira, 13 de junho de 2013

Fantasmas em Veneza


Na Praça de São Marcos um Mercador aproximou-se. Olá, disse ele, perdi uma aposta. O meu criador, um inglês de bigodinho estranho, morreu há largos anos, e deixou-me sozinho sem forma de pagar a aposta para poder desaparecer em paz. Ignorei-o e continuei a admirar a Praça. Os canais. As pessoas. As máscaras. Até que ela me pergunta quem era. E eu respondi que era um Mercador qualquer. Se calhar era o Mercador de Veneza, diz ela para se meter comigo. Eu olhei para trás nesse instante e soube que ela tinha razão. Existem fantasmas na Praça de São Marcos. Voltei para trás e perguntei ao Mercador quem era o seu criador. Ele confirma as minhas suspeitas, William, o criador de seu nome. E eu, o doutor de Direito por quem espera, serei quem o irá salvar de cortar a sua carne no Tribunal do Duque de Veneza para pagar a aposta. Aceitei defendê-lo, ainda que o alertasse que não sou advogado. Ele disse que não fazia mal porque Pórcia também não era. Mas tinha de me mostrar Veneza em troca. Aceitou de imediato. Num dos seus barcos fantasmas levou-nos a Murano e Burano. Mostrou-nos os cristaleiros. Disse quais os melhores. Apresentou-nos outro fantasma, Vivaldi, que nos recebeu na sua mansão fantasmagórica e tocou para nós. Conhecemos outras personagens. Uma delas ofereceu-nos mascaras de Veneza. Andámos pelos canais. Uns mais conhecidos. Outros mais desconhecidos. Passámos pela Ponte Rialto.  Depois, entrei no tribunal para o defender. Foi a primeira vez que defendi alguém em tribunal. Ainda bem que se trata de personagens, não sei como era ter a vida de alguém no meus dotes de orador e poder de argumentação. Porque de leis venezianas não sei nada. Consegui. Salvei-o. Veneza estava em festa. Coloquei a minha máscara. Ela colocou a sua máscara. E, fora de época, depois do Mercador partir, fizemos o nosso carnaval de Veneza.

All that glisters is not gold
Often have you heard that told
Many a man his life hath sold
But my outside to behold
Gilded tombs do worms enfold
Had you been as wise as bold, 
Young in limbs, in judgment old
Your answer had not been inscroll'd:
Fare you well; your suit is cold.

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