segunda-feira, 1 de julho de 2013

Isto não é Fiction, é Pulp, o Adeus

Há duas formas de encarar Pulp de Bukowski. A certa e a errada. Como mais um livro ou como o seu último livro. A certa é ver como o seu último livro.
 
 
A forma crua e dura de escrever estão presentes. A forma de encarar a vida com escárnio e desdém, também. Esta é a história de um detective que tem de resolver uma série de casos surreais. Um morto que fugiu à morte. Um caso de infidelidade sendo o amante um E.T. que é amigo de uma outra E.T. de quem o detective tem de se livrar para um outro cliente. E o caso do Pardal Encarnado. E a diferença é esta: quem é este detective? Em todos os outros livros havia Henry Chinaski, o seu alter ego. Onde ficcionou (será?) parte da sua vida. Neste não. Porquê?
 
 
Já doente a sua vida talvez não tivesse nada mais para ficcionar. Numa perfeita amostra que a vida é sempre a inspiração maior. Um dos grandes conselhos indirectos que Bukowski nos dá. Logo no início do livro se diz que dantes a vida do escritores era mais interessante que os livros. Agora nem uma coisa nem outra. Bukowski reconhece aqui que não tem nada mais interessante para contar. Então inventa esta história. Onde o morto porcurado pela morte é Céline, o famoso escritor francês. A única justificação é a justa homenagem de Bukowski. Reconhecer que houve outros antes dele. A humildade de um os grandes. E a personagem é o detective porque Bukowski não quer lidar com a sua própria mortalidade. Tem conhecimento que o seu tempo está a chegar ao fim. Logo o fim de Henry Chinaski. E ele não o consegue matar. Porque não se consegue matar. Apesar de sempre ter gozado com a vida. De a ter desafiado. Mas não a consegue encarar agora de frente quando é ela que se ri dele. Assim, mata uma outra personagem. E vive para além dela. Ainda que por pouco tempo.

Pulp é um livro que se lê bem. Um bom livro. Mais interessante pelo que representa que pela história. A melhor crítica é a que ele próprio dá, a vida de alguns escritores são sempre melhores que os livros. E a vida de Bukowski é melhor que este livro. Que ele tão bem escreveu nos outros.

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