quinta-feira, 11 de julho de 2013

Tornarmo-nos maior que a vida



Stars were the souls of dead poets; but to become a star, you had  to die.
Van Gogh

Eram dez horas da noite e estávamos presos no trânsito para a ponte 25 de Abril. Era um desses dias de calor onde todos tinham ido para a praia. Nós regressávamos do Alentejo. Da costa alentejana. Das águas frias. Das areias intermináveis. Durante essa tarde sentei-me várias vezes à beira mar. Senti nos pêlos do braço as ondas enrolarem-se sobre elas mesmas. Arrastarem massa de água até a areia e rebentarem. Ondas perfeitas e certas. E eu ali sentado. Amaldiçoei o joelho. Gosto de ver as ondas. Gosto de ver a natureza a viver. Mexer-se. Eles, todos os que tinham vindo comigo, estavam lá em cima. Embrulhados nas t-shirts e túnicas. As alpercatas jogadas para um lado. Chapéus de palha. Risos e conversas. Cores de pele bronzeadas e cheiros de cremes.

E agora estava no carro de janela aberta. Já não via as ondas. Já não sentia o cheiro do sal. Ali, na fila, pensei que cada carro tinha pelo menos uma pessoa. cada pessoa tinha pelo um sonho. Ali, naquele pedaço de estrada estavam muitos dos sonhos de Portugal. 

um dia vamos todos embora. É assim. Van Gogh deixou a arte mas desistiu de viver. Depois de ter cortado uma orelha. Em 2008 fui a Amesterdão. Fui ao seu museu. Um museu bonito e arranjado. Como é típico do países nórdicos. Tinha alugado uma bicicleta e deixei-a à porta quando entrei para ver as suas obras. Anos e anos depois de ter abandonado a materialidade o seus sonho imaterial de criar beleza ficaram. E era isso que eu pensava ali naquele carro, naquela fila para a Ponte 25 de Abril. 


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