terça-feira, 8 de outubro de 2013

Teria Sido Feliz Num Banco De Jardim. Enquanto Te Esperava

E sem que me apercebesse, uma rapariga sentou-se ao meu lado. Eu sabia pelo que esperava. Esperava por alguém que não sabia o nome. O que esperava essa pessoa? Não sei. Mas ficámos ali sentados. Os dois. Fez vento. Fez sol. Choveu, a determinada altura. A rapariga abriu um guarda-chuva amarelo e olhou para mim. Convidou-me em silêncio para que me chegasse e me abrigasse da chuva. Fiz um sorriso tímido a declinar. Quem esperava deveria estar a chegar. Ainda que eu não soubesse quem fosse. E quando chegasse, na realidade. Depois da chuva o sol apareceu de novo. Fez-se noite de seguida. As minhas roupas não secaram completamente. Espirrei. A rapariga estendeu-me um lenço de papel. Recusei com um tiritar de frio. Na tarda deveria ir-me embora. Quem eu esperava, estaria a chegar. Tive fome. A noite foi longa. A rapariga mastigou uma sandes ao meu lado. Não me ofereceu nem uma dentada. As  madrugadas são frias. E aquela foi mais uma. As pessoas passaram. E eu e a rapariga ficámos sentados. Ambos esperávamos. Em silêncio a tarde chegou. A determina a rapariga levantou-se e foi-se embora. Sorri para dentro. Porque a minha resistência seria compensada. Eu esperei, ela vai chegar. A rapariga desistiu, vai perder a oportunidade.


No outro dia um miúdo passou em frente do banco e ficou a olhar para mim. Sentou-se ao meu lado e continuou a olhar para mim. Perguntou-me o que estava ali a fazer. Eu disse-lhe, espero uma pessoa. E só esperas? Perguntou-me ele. Sim, foi o que respondi. Mesmo quando chove ou tens fome ou ficas doente? E eu a tudo respondi que sim. Como se chama essa pessoa? Perguntou-me ele. Não soube responder. Nem como se chamava ou como ela era. Apenas esperava. Porque todos na vida estamos à espera da nossa pessoa. E o miúdo foi-se embora.


Dias depois uma senhora de idade sentou-se ao meu lado. Começou a ler uma revista. Demorou muito tempo a ler a revista toda. no fim, guardou-a na sua mala que colocou ao colo. Vi que olhava para mim. deste-te conta dos anos a passarem? Perguntou-me. Eu? Respondi supreendido. Sim, tu. Insiste ela. Eu só estou aqui há uns dias, respondo. E uma das suas mãos enrugadas faz-me uma festa na cara. Os anos passaram, estás mais velho, mas tens a mesma voz, e continuas bonito, mas ainda és arrogante. Retiro a sua mão da minha cara e reparo na minha própria mão. Tem a pele baça e amarelada. Tem rugas. Toco no meu rosto e sinto a pele caída. Sem elasticidade. Volto a olhar para a senhora que me sorri de forma triste. Começa a chover e ela abre um um guarda-chuva amarelo. Adeus, diz-me.


2 comentários:

Anónimo disse...

Blogger de volta... para aprovar mais este texto. Escreves realmente bem!

E disse...

Continua a voltar.

Ainda que este foi publicado agora por engano ;)