segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Como Na Vida, Levanta-te Se Não For Falta

Futebol. Mais que um jogo. Mais que um momento de convívio. Liga gerações. Mas mais importante que tudo isso, é feito de pessoas, jogado por homens. E alguns desses são homens bons. E é assim que começo este texto.

Há muito anos atrás, em 1990 dava na televisão o campeonato do mundo em Itália. E é o primeiro campeonato do mundo que me lembro. O meu tio, benfiquista, homem bom, velhinho, de combates vencidos contra ataques cardiacos e outras merdas que não o tinha feito tombar, torcia pela Argentina. Eu era um fedelho, gostava de futebol mas aquele da rua. Aquele no pátio da escola. Torcia pelo Benfica por causa desse meu tio e pela selecção. Mas essa, não andava em lado nenhum por aqueles tempos. Sentei-me ao lado do meu tio para ver o jogo inaugural. E o meu tio, velhinho, sorria com um tipo pequenino que lá andava. Perguntei-lhe quem era e ele diz-me que era o Maradona. Um dos melhores do mundo que ele teve o prazer de ver jogar. Quem são os outros, tio? perguntei.

Ele esqueceu o jogo e falou-me de Eusébio. Falou-me de um outro mundial. Falou-me da sua importância no Benfica, o nosso clube. Falou-me da sua importância em colocar o nome de Portugal, um país pequenino, lá fora. Falou-me da sua simpatia. Falou-me do seu não vedetismo. Falou-me das quedas que ele sofria mas que quando não era falta levantava-se. Falou-me dos penaltis que marcava mas que cumprimentava os guarda-redes. Falou-me de uma pessoa que saia do jogo para entrar no imaginário do que aquele jogo deveria ser: um jogo de cavalheiros. Ainda que se tenha nascido num lugar pobre, longe de de tudo, um homen revela-se por aquilo que faz e não pelo que diz.

Ontem, este Eusébio faleceu. O corpo, apenas. O imaginário deste Eusébio fica. O meu tio já cá não está para se despedir dele. Uma figura (quase) consensual para todos os portugueses. Porque somos um país pequenino mas temos ainda personagens que nos representam enquanto ideal. Figuras maiores que nos ligam. Portugueses que nos dão conquistas imateriais.

Mas, se todos os que gostam de desporto, gostam do Euséio, perderam um mito, a família perdeu o Homem. O pai. O marido. E a dor e a perda deles é bem maior e mais importante que a de todos nós. Que a perda do meu tio. Mesmo quando em 1990 recordava as jogadas do seu ídolo Eusébio.

6 comentários:

CAP CRÉUS disse...

"O meu tipo".
Vai lá corrigir isto, pá.
O meu 1º mundial, é do México 86.
Quanto ao Eusébio, espero que dê forças para domingo!

Kapu disse...

Pois que Eusébio é, efetivamente, de Portugal. Acima do Benfica, acima de tudo. A ele tenho de agradecer tudo o que trouxe ao nosso país. Ainda que volta e meia tenha, parece-me, faltado ao respeito ao meu clube acho que são coisas que não mancham o homem. Todos cometemos erros, certo?? Paz à sua alma e o meu sincero muito obrigado!!

E disse...

CAP CRÉUS

Obrigado, pá!

Eu de 86 lembro-me muito pouco. Quase nada. sabia que "estava a dar" só isso. Mas deve ter sido fixe ver o Maradona jogar em grande nesse.
Vamos ganhar o Mundial, vais ver. Mais que domingo (que também vamos ganhar).

E disse...

Kapu,
Exacto, todos cometemos erros. Todso. ele também, claro. Afinal, era também ele adepto. Quantas vezes nós mesmos não tratamos mal os outros clubes? Faz parte da nossa natureza humana.
Mas, ele era "nosso". e da sua verdadeira familia. Homem e mito de mãos dadas.

CAP CRÉUS disse...

Quero muito ganhar no Domingo!
Para mim, o Armando é o maior. Aquele jogo contra a Inglaterra, foi brutal!
Partia aquilo tudo!
Abraço

Kapu disse...

Obviamente E. E acho espantoso e de certa forma irónico que os mesmos que arrasam o Eusébio por ter dito o que disse do meu Sporting grite depois, feliz e contente, "SLB SLB SLB.....FILHOS DA ......SLB....." e outras coisas que tais em tudo o que é bancada ou fora dela, por exemplo. Mas enfim, olhar para o espelho não é uma coisa fácil, certo?

Juntando.me à conversa (e peço desculpa pela intromissão) também as minhas primeiras memórias são as do mundial de 86. E sim, acho que foi Maradona que me fez amar tanto a bola (hoje menos, vendo no que se tornou). GIGANTE!!!