Começa hoje um julgamento, como muitos. Mas no de hoje estará
sentado no banco dos réus quem levou um amigo meu. O Pedro espera justiça. Os
pais esperam justiça. Sendo que nenhuma será suficiente. A justiça dos Homens
pecará sempre por defeito. Não defendo nem acredito na pena capital. Fazes em
vida, pagas em vida. Mesmo que isso seja insuficiente. E hoje será
insuficiente. Amanhã será insuficiente. Uma vida não tem preço. Porque uma vida
alberga demasiadas memórias, demasiados sentimentos para se colocar um valor.
Um número sobre aquilo que agora é apenas fotografias guardadas.
O Pedro tirou o mesmo curso que eu. E no fim, tal como eu,
entristeceu-se com a justiça. Não quisemos advogar. E hoje, a sua última defesa
assenta nas mãos de alguém que representa aquilo que não quisemos ser. A vida é
irónica. Além de injusta, por vezes.
Hoje começa o julgamento que colocará, ainda que frágil, um
ponto final de uma dor. Mas as saudades não se vão embora. Apenas aumentam.
Lembro-me do Pedro sempre que olho para as ondas que nunca vamos apanhar.
Sempre que pedalo. Quando entro na Box para praticar Crossfit. Quando os três
que restam nos juntamos à mesa e falta um. A ausência não se dissolve. Apenas
se torna mais notada.
Pedro,
Até um dia.
4 comentários:
Nada trás o(s) Pedro(s) de volta. Mas só o facto de sabermos que poderá haver justiça sob quem os tirou de nós... Já é um alento.
Um grande beijinho hoje! *
Não vão embora as saudades e não vai embora a dor. Seja qual for o resultado do julgamento.
Um abraço neste dia em que até os céus choram pelo teu amigo companheiro...
Um abraço!
Obrigado.
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