Tenho Uma História

Que gostava de contar. A história da Rita. A Rita é uma amiga minha. Tanto quanto pode ser amiga uma pessoa que não vejo há mais de 10 anos. É a pessoa que eu acho que conheço há mais tento. Quando os meus pais iam trabalhar e me deixavam nos meus tios a Rita também era deixada na sua avó. E foi assim que, miúdos, nos conhecemos. Ela fazia ballet. Dançava em pontas com 5 anos. Era forte. Alta. Tinha sardas e um cabelo preto grande e muito bonito. Cresceu e tornou-se bailarina. A última vez que a via estava eu na faculdade e encontrei-a no Chiado. Viu-me e falámos durante horas. Andava de companhia em companhia. Via o mundo enquanto eu via a segunda circular e as paredes da faculdade. Disse que a invejva. E ela, com os olhos da Rita de 5 anos, perguntou-me se ainda queria mudar o mundo? Perguntou-me isto enquanto me apertava as mãos. E eu disse que tinha crescido, o mundo não iria mudar por causa de mim. Ela respondeu-me que enquanto viajava via muitas coisas. Muitos lugares. E que o mundo continuava a precisar de alguém que o mude. E hoje, quando me recordo dessa conversa, o mundo continua o mesmo e eu nada fiz. Mas a Rita continua a dançar.