Reality faz-nos um check-in todas as manhãs. Olá, bom dia, diz adeus ao sonho, é altura de acordares. Lisboa tem a sua luz, o que melhora sempre alguma coisa. Passam carros nas estradas apinhadas. Carros que andam com milagres de mecânicos de esquina a troco de fortunas que não se tem. Mas o que interessa é que o caro ande. No semáforo ao lado um Porsche com fatos Zegna pendurados no banco traseiro. Afinal é um Porshe familiar. O condutor confessou ao almoço num restaurante de toalhas de pano branco que a mulher só lhe deixava comprar um Porsche se tivesse mais do que dois lugares. Os outros à mesa, nos seus fatos bonitos de dois botões, riram-se. Mas todos se reviram naquela situação. No rua, do outro lado do restaurante, um rapaz de calças justas pretas ouve auscultadores. Ouve Johnny Cash quando em miúdo não queria ouvir as músicas dos pais. Mas agora gosta. Escreve ao mesmo tempo num iPhone que comprou com o dinheiro do part-time a seguir à faculdade. À noite actualiza o status no facebook sentado na cozinha que partilha com colegas enquanto janta uma lata de atum com massa mal cozida. Lá fora, sob a luz de um candeeiro, uma puta tenta fazer o dinheiro da noite. Escolheu a saia mais curta que tinha, quando a escolha se reduz a duas que comprou na pinkie em saldos. Sorri para os homens que passam mas sente-se sozinha. Fode por dinheiro e quer ter sexo por amor. Ajeita as mamas quando está sozinha. Tenta as sobressair. Mas os anos são fodidos e os três filhos deixara-nas com esterias e descaídas. O cabelo estragado das tintas baratas. Mas são investimento, pensa. Tal como as mamas das putas de luxo que depois acompanham os tipos dos Porsches.
2 comentários:
Muito bom.
True Story!
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