Primo o intercomunicador. A voz metálica de
Cécile das entranhas do prédio não pergunta quem é, faz uma afirmação.
"Duarte, és tu?". Respondo que sou eu, sim. Aqui enregelado à porta à
espera que possa subir. "Não andes sempre em mangas de camisa como se
fosses um pobre coitado sem mais nada para vestir", diz-me na minha memória. A porta abre-se. São
alguns lances de escada até ver Cécile à porta entreaberta à espera que eu
apareça com o melhor que Jil Sander tem para a tapar. Pela subida retive a sua voz. Já esta há tanto tempo cá mas ainda não
perdeu todo o sotaque. Que nunca consegui perceber se o tenta camuflar
propositadamente ou não. Mistura-se agora naquela forma rápida e desembaraçada
de um nova iorquino. Falam como andam. Rápido. Com encontrões a
turistas desatentos. Em Cécile os sons ficam mais nasalados quando se irrita. Carrega nas vogais. Pierre
estava errado, afinal demora mais algum tempo do que disse até perdermos o
sotaque.
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