terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Love, Sex, Decay



Toda a noite dançou. Era difícil não notar nela. Alta, magra e elegante. Com o cabelo ruivo solto. A maquilhagem na dose certa tal como Anne lhe tinha ensinado. Dentro de um pequeno vestido preto que lhe mostrava as pernas. Com aquela confiança típica de quem viveu sempre em Manhattan, teve sempre tudo o que quis, parou à frente dela e estendeu-lhe um copo alto de cocktail e sorriu. Cécile parou de dançar e olhou para quem estava à sua frente. Maxilar definido. Um sorriso enorme cheio de dentes brancos e perfeito. Debruçou-se sobre ela e falou-lhe ao ouvido. Despediu-se dos amigos e saiu com ele. Durante duas semanas não quis saber de mais nada. Não se reconhecia. Não percebia as suas atitudes. Não podia acreditar que aquilo que sentia seria o mais aproximado com um sentimento que recusava a dizer a palavra. Mas a verdade é que ele aos poucos e poucos a foi dominando. Uma noite estavam no seu apartamento perto de Union Square e ele começa a tentar despi-la. Já tinham feito sexo antes. Mas naquela vez havia uma certa crueldade na forma como a apertava contra si. Um instinto e um olhar de que nada o iria impedir. Disse várias vezes não, mas nunca ele parou de lhe tirar a roupa. Já por várias vezes tinha ficado nua à sua frente. De todas as vezes tinha tido um orgasmo. Tinha desfrutado. Mas não naquela vez. Sentiu-se pela primeira vez despida para além da pele. Sentia-se embaraçada de ver as suas mamas pequenas a dançarem na frente dele. Daquele olhar de a quem nada é recusado. No fim vestiu-se em silêncio. Ele fumava um cigarro à janela. Sem se despedir saiu. Não verteu uma lágrima. Não contou a ninguém. Foi como que apenas um acontecimento na sua vida tivesse terminado. Nunca mais o viu. Nunca mais atendeu as suas chamadas. Nunca mais respondeu as mensagens. Sabia que ele seria demasiado orgulhoso para a ir esperar na faculdade ou ir até onde ela morava. Tentou retomar a sua via até o momento em que o conheceu. Voltou a correr quase todos os dias em Central Park. Agora olhava para aquelas pessoas com um outro interesse. Correriam elas, como ela, para fugir a algo? Ou para chegarem a algum ponto, também como ela? Corria para fugir à memória recente, corria para chegar ao que era dantes.

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