Toda a noite dançou. Era difícil não notar nela.
Alta, magra e elegante. Com o cabelo ruivo solto. A maquilhagem na dose certa
tal como Anne lhe tinha ensinado. Dentro de um pequeno vestido preto que lhe
mostrava as pernas. Com aquela confiança típica de quem viveu sempre em
Manhattan, teve sempre tudo o que quis, parou à frente dela e estendeu-lhe um copo
alto de cocktail e sorriu. Cécile parou de dançar e olhou para quem estava à
sua frente. Maxilar definido. Um sorriso enorme cheio de dentes brancos e
perfeito. Debruçou-se sobre ela e falou-lhe ao ouvido. Despediu-se dos amigos e
saiu com ele. Durante duas semanas não quis saber de mais nada. Não se
reconhecia. Não percebia as suas atitudes. Não podia acreditar que aquilo que
sentia seria o mais aproximado com um sentimento que recusava a dizer a
palavra. Mas a verdade é que ele aos poucos e poucos a foi dominando. Uma noite
estavam no seu apartamento perto de Union Square e ele começa a tentar
despi-la. Já tinham feito sexo antes. Mas naquela vez havia uma certa crueldade
na forma como a apertava contra si. Um instinto e um olhar de que nada o iria
impedir. Disse várias vezes não, mas nunca ele parou de lhe tirar a roupa. Já
por várias vezes tinha ficado nua à sua frente. De todas as vezes tinha tido um
orgasmo. Tinha desfrutado. Mas não naquela vez. Sentiu-se pela primeira vez
despida para além da pele. Sentia-se embaraçada de ver as suas mamas pequenas a
dançarem na frente dele. Daquele olhar de a quem nada é recusado. No fim
vestiu-se em silêncio. Ele fumava um cigarro à janela. Sem se despedir saiu.
Não verteu uma lágrima. Não contou a ninguém. Foi como que apenas um
acontecimento na sua vida tivesse terminado. Nunca mais o viu. Nunca mais
atendeu as suas chamadas. Nunca mais respondeu as mensagens. Sabia que ele
seria demasiado orgulhoso para a ir esperar na faculdade ou ir até onde ela
morava. Tentou retomar a sua via até o momento em que o conheceu. Voltou a correr quase
todos os dias em Central Park. Agora olhava para aquelas pessoas com um outro
interesse. Correriam elas, como ela, para fugir a algo? Ou para chegarem a
algum ponto, também como ela? Corria para fugir à memória recente, corria para
chegar ao que era dantes.
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