segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Morre cedo quem os deuses amam




As horas passaram devagar. Ou passam semprequando não se tem nada que fazer. Fumei mais de metade do maço. Sentia a boca afumo. Um gosto que se misturava com o ácido do vinho e o frito das pataniscas.O café ia-se enchendo lentamente com o meu fumo e o dos outros. Já passava dastrês quando Fernando entrou. Ainda no balcão reparou em mim. Fez-me um sorrisode dentes arreganhados. Mas era um sorriso simpático, de quem não tem muitojeito para falar com as pessoas. Sentou-se ao meu lado depois de mecumprimentar com algum formalismo. Era uma nota da sua persona. Um formalismoacentuado no trato. Cheguei a fazer o teste, tratei-o por tu mas respondeu-mesempre em você. Ao olhar para Fernando hoje era olhar para o Fernando de ontem.O mesmo fato. O mesmo olhar. Os mesmos óculos e o bigode no mesmo cumprimento.Uma pasta com coisas debaixo do braço. A sua pessoa ganhava-me à curiosidade.Além de Ofélia começava a criar-se outras perguntas. Tinha amigos? Na minhacabeça é apenas um tipo solitário. Que vive na triste melancolia criada por si.Não o imagino violento. Não o imagino expansivo, criador de gestos que nãosejam cuidados. Gestos rudes não saem de punhos pequeninos e sem pelos como osdele. E que raio é a Orpheu?

2 comentários:

Margarida disse...

Era a revista que não sobreviveu! Mas que eu dava tudo para ter aqueles 2 primeiros exemplares, para juntar a umas primeiras edições que tenho cá em casa! ;)

E disse...

seria uma achado!