terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Sábado, entre o Chiado, Amoreiras e Corte Inglês (uma análise ao maravilhoso mundo do street style)



As ruas, passeios, corredores são uma qualquer espécie de slide show de street style. Mas mal amanhado. Com influências misturadas, personalidades reduzidas a roupas. A minha avó fazia arranjos de flores. E dizia-me constantemente as flores mais bonitas, juntas sem ordem, fazem dos arranjos mais hediondos. Consigo compreende-la. Percebo quando vejo miúdas lindíssimas e tipos cheios de estilo afogarem-se em construções barrocas de editoriais vivos. Elas são tachas, néon, peplum, camuflado, litas, Cabelos enormes, LV no braço, eyeliner carregado, saias mullet, calças de cintura subida, mini calções de cintura subida, creppers. Eles são também tachas, cabelos rapados nos lados com o resto penteado para trás, também camuflado, também creppers, sapatos de mil cores, jeans para lá de justas, men bags nos braços. Nas conferências TED Cameron Russell dizia uma grande verdade quando falava de uma fotografia dela mesmo: aquilo não era ela. Era o resultado de um conjunto de pessoas a trabalharem para uma imagem final. Ela pode ter sido a tela inicial. A matéria em bruto para um editorial final. Mas no fim, não era ela. O que resulta em não perceber interpretações diárias de editoriais.

Ao longo do percurso o mundo virou-se ao contrário. O arquivo mostra as primeiras fotos do The Sartorialist e havia um bem vestir simples, eficaz e directo. A Vanity Fair recentemente fez o mesmo Aqui. Mas a lente tinha saído para a rua. A caixa de Pandora estava berta. O Hyde Park e o Jardim de Tuileries era onde tudo interessava. Nasceram piadas, nasceram jocosos guias de como ser fotografado por Scott Schuman que começou a dizer que fotografa pessoas. Em Lisboa o Alfaiate afirma o mesmo. E eu percebo. Como percebi a minha avó. Há que ver para além da roupa. O andar, o mexer, cria movimento, dá vida ao que se veste. Quando a lente se volta para dentro, para Licoln Center são as roupas que interessam. Na rua são as pessoas. E é difícil vê-las quando estão camufladas.

4 comentários:

paris2london disse...

Tudo se tornou banal. Tudo se tornou igual. Cópias de cópias. Até Scott Schuman diz que prefere fotografar noutros sítio que não à saída dos shows nas fashion weeks onde se veste tudo que havia no guarda roupa daquele designer específico. No fundo acho que já ninguém tem uma identidade/estilo próprio. Pelas ruas cá é zara em cima de H&M com acessórios da primark. E não que isto seja errado, porque são acessíveis, mas sem um input próprio, sem uma combinação muito particular, é tudo obsoleto tal e qual todos os style blogs.
Acho que isto nao fez muito sentido, mas espero ter conseguido passar o meu point of view.
(Finalmente um blog português que dá gosto ler.)

E disse...

Passaste sim, e aqui para nós, há um amigo meu que tem uma denominação que é "Low Cost Fashionistas" e eu tenho "Incoerentes visuais".

Eu continuo a gostar de ver todo o espectáculo. Gosto de ver miúdas bem vestidas. Gosto de ver tipos com pinta. Não me incomoda que sejam todos iguais. O que é estranho é a perda da identidade por baixo das roupas. São cabides em que as coisas quase não assentam bem

(e obrigado, mas há mais blogs giros e bons ;))

paris2london disse...

Ainda assim, acho que é giro quando o que está por baixo se vê por fora! É aí que surgem as identidades e o "estilo".
Mas sim, também gosto de assistir a todo esse espectáculo visual, pena que não seja sempre um espectáculo positivo. Oh well...

(Não sei onde é que eles andam... mas vou andar mais atenta)

E disse...

Quando o que está por baixo se vê quer dizer que se escolheu bem. É tão simples quanto isso. Mais não quer dizer muito. Os tipos que acho que têm mais pinta e as miúdas que têm mais classe são sempre parcos na escolhas que fazem e sobressaem sempre.

(ficava-me mal dizer que não há mais, mas eles existem. Gosto do Bom Sacana, por exemplo. O melhor de todos, por sinal. Melhor que o meu)