sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Atenção, está um elefante na sala. Por favor ignorar.




Todos os dias me levanto, visto um fato e saio para um escritório onde estão pessoas cinzentas como o fato que vestem. Na realidade não é cinzento a cor predominante. Mas o mais recente nas montras das grandes lojas da Avenida da Liberdade. Eu fui o último a chegar. Por isso o cinzento é o do meu fato. 

A semana passada fui a um jantar volante. Daqueles onde uma mesa está encostada a uma parede. Cheia de salgados, doces, torradinhas, compotas. Mas muito poucos hidratos. Muitos poucas gorduras. Tudo muito zen. Tudo muito orgânico. Tudo servidinho em pratinhos pequeninos. Para um vegetariano aquilo fez-me confusão. Tudo disposto numa forma pensada. Para estar bonito. Ser bonito. Sem utilidade. Andei pela casa de copo na mão. Uma casa bonita. Gira demais. Gostei das paredes. Gostei de alguns móveis. Não sei como lá vivem. Estava tudo asséptico. Ela ficou lá em baixo a falar com quem nos convidou. A convidou. Eu era o "plus one". O dispensável. O que ninguém conhece. Noutro tempo ia até à rua ou ao jardim fumar um cigarro. Os gestos mantiveram-se. Os passos no caso concreto. Ali no jardim enorme regado com a escuridão da noite. Um ou dois candeeiros acesos. De luz mortiça dourada. Um grupo fumava uma ganza numa espreguiçadeira. Olharam para mim. desviaram o olhar. Um casal nada na piscina. Ainda bem que é aquecida pensei. Vejo o fumo sair da água. Numa dança bonita. Numa valsa de Straus foge par ao ar. Bebo o que me resta no copo. Volto para dentro. Encho o copo. Um gesto que voltei a fazer algumas vezes durante a noite. Comi pouco. Merda para a ausência de hidratos. para essa porra de mesas organizadinhas. 

Todos os dias me levanto, visto o fato e saio para o escritório. "Então, bom dia? Estás com um ar cansado como foi a noite?" Por momentos penso no que dizer. Que vi um casal a comer-se numa piscina à noite. Estava aquecida, não precisavam de se preocupar. Que depois estavam pessoas a fumar ganza, ou seria erva mesmo? Adiante. Num dos quartos de cima havia mais deboche. Julgo que alguns se envolverem com multiplos parceiros. Afinal era uma festa dessas todas finesses, e todos sabemos como essa gente se diverte! Que bebi. Imenso, na realidade. Dancei com ela. Obriguei-a a dançar comigo. Enquanto ela me sussurava ao ouvido a ri-se que já tinha bebido um poucochinho. 

"Foi boa, obrigado"

3 comentários:

Sexinho disse...

Tu enervas-me; de bem que escreves!
:DD

E disse...

então, espero continuar a enervar ;)

R. del Piño disse...

Curiosamente é por detrás dos fatos mais caros nos armários por esse portugalinho fora que se encontram os elefantes mais volumosos. Quem sabe, no meio da gente da festa, não estaria lá outro qualquer fato vestido com outra coisa qualquer?!?