sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O café de manhã junto ao Largo de Camões


 
No mesmo bairro de Lisboa trabalha um amigo meu. Encontramo-nos imensas vezes para tomarmos o primeiro café do dia. Depois quando chego ao trabalho bebo um outro. Não consigo ligar o computador sem um café à frente. Ele trabalha numa agência. Eu trabalho num escritório. Parece-me que ele sai a ganhar. Ele é um tipo alto e cool. Que fuma cigarros com pinta. Agarra-os com o polegar e o indicador. Acho que ele faz de propósito para o cenário. Já foi fotografado duas vezes por altura das modas. Ele trabalha lá ao pé. Da primeira meti-me com ele. Da segunda ignorei. Almoçamos muitas vezes juntos. Por vezes levamos a comida para a agência dele. Nos dias em que o sol brilha almoçamos na varanda. Vemos as miúdas cá em baixo. Anda de bicicleta como eu. Mas a dele é mais feia. E eu pedalo mais rápido. Ao fim do dia quando saimos ao mesmo tempo fazemos uma corrida para cima. Ganho sempre. Mesmo quando venho de fato. Hoje ele meteu-se comigo. Disse que eu vinha à civil, porque deixei a gravata em casa. Eu invejei o boné novo que trazia.
 
Depois do café descemos a rua. Eu fui para a direita ele para a esquerda. Mas antes passou uma miúda por nós. Ele parou para olhar para ela. "Gira", disse. Subia a rua com umas jeans justinhas e uma bluca escondida por um casaco daqueles largos. Parecia de lã. Uma lá azul clara com laivos de um verde qualquer. Trazia o cabelo mal apanhado num rabo-de-cavalo que lhe dava uma graça. Ele voltou a andar para a frente. voltou a acender um cigarro. A Rua Garrett não tinha ninguém. Os armazéns ainda estavam fechados. "Mais logo vou jantar com uma miúda. Não a conheces." Está bem disse. Cada um seguiu para o seu trabalho.
 

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