- Amanhã
vamos embora.
-
Sim. Mas antes temos esta vista. O rio. E as cores dos prédios no outro lado.
Douradas como a noite.
-
Podemos dizer adeus a um daqueles barcos quando passarem.
-
Podemos. E levantamos a garrafa e gritamos que estamos a brindar a Paris.
-
Achas que vão compreender?
-
Bem, haverá sempre um português. Estamos em todo lado.
-
Dás-me um beijo.
-
Dois.
- Só
quero um.
-
Porquê?
-
Porque quero aquele beijo único, longo, doce, húmido. Que faz querer mais. Mas
vou ficar a guardá-lo para depois.
- O
que gostaste mais de Paris?
- É
difícil dizer. Na minha cabeça ficou um postal animado. Cheio de imaginação.
Mas um misto de tudo. As ruas, os museus, as pessoas.
-
Paris ganhou-me, sabes?
-
Vim para te fazer a vontade.
-
Vieste porque quiseste.
-
Sim. Mas porque quis vir cá contigo. É terrível isto de não querer quebrar
mitos urbanos. Se tinhas de vir com alguém tinha de ser comigo. Não te podia
deixar vir com mais ninguém.
-
Isso é terrivelmente egoísta. Não sabemos o futuro.
-
Exactamente. Terás Paris para sempre, porque já vieste, mas eu estarei sempre.
E o amor é terrivelmente egoísta e irracional.
-
Mas eu também não faço questões de ir a lado nenhum.
-
Nem eu.
- Já
imaginaste. Ali, do outro lado. Camuflados pelas sombras pode estar um outro
casal. Tal como nós. Sentados. Fumam um cigarro e fazem
promessas de amor eterno. Podem ser parisienses. Podem não ser. Isso não
interessa. E não nos vêm. Mas neste mesmo momento estamos todos virados uns
para os outros. Mas nunca saberemos da
existência uns dos outros. E eles, sempre que se lembrarem deste momento,
vão-se lembrar de nós. Mesmo que não saibam. Seremos uma marca invisível.
-
Tal como Paris. Sempre que me lembrar dela vou-me lembrar de ti. E sempre que
me lembrar de ti vou-me lembrar do que vivi contigo.
-
Sim. Mais ou menos. Com a diferença que somos visíveis um para o outro.
-
Mas o que sentimos é invisível.
-
Temos mesmo de partir amanhã?
-
Infelizmente sim.
-
Podemos voltar?
-
Sempre que quiseres.
3 comentários:
Obrigado
Estive a ler esta viagem toda e valeu a pena, sobretudo para ler agora a resposta mais fantástica que uma mulher pode ler "Sempre que quiseres". Fora de brincadeira, Paris é uma cidade extremamente convidativa aos vossos olhos :)
Obrigado. Acho que é terreno comum, a preferência conjunta, uma vez que eu sou NYC e ela Londres
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