segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Morre Jovem o que os Deuses Amam - Part II






É ele que escolhe a mesa. Uma mesa suja e encardida com tampo manchado de vinho. Pedimos dois cafés e dois copos de vinho tinto. Ele levanta-se por momentos para comprar um maço de tabaco. Senta-se de novo, coloca o seu chapéu em cima da mesa e sorri-me. Presto atenção pela primeira vez. Tem vestido um fato cinzento banal. O bigode está bem arranjado e o cabelo bem penteado no seu risco ao lado com brilhantina. Uns óculos de aros de metal enfeitam o rosto comprido.

Volto a perguntar “A menina Ofélia, de onde a conhece?”. Volta a sorrir-me. Tem um sorriso de criança. É mais velho que eu. Não lhe consigo adivinhar a idade, no entanto. “É uma história engraçada, mas bonita. Mas antes, deixe-me fazer-lhe uma pergunta, quantas Ofélias conhece? É porque tudo começa com o nome de Ofélia”. De imediato lembro-me da Ofélia, a “O” de Don Winslow, mas fico calado e digo que não com a cabeça. Naquele dia entrou no escritório com o chapéu numa mão e o sobretudo dobrado num braço. Debaixo do outro trazia uma pasta encarnada com umas folhas escritas à mão. A menina Ofélia estava sentada atrás de uma secretária onde estava uma tabuleta com o seu nome e escrevia num bloco de folhas amarelas. Fazia caretas no final de cada frase. Não deu por ele. Em pé na sua frente que esticava o pescoço para a ver melhor o nome. Como se tivesse qualquer coisa que o prendesse para além das letras que o compunham. Ofélia. Dizia baixinho entredentes para si até que foi desperto daquele estado. O Sr. Valadas entra no hall e dá-lhe uma palmada forte como é seu hábito nas costas que faz barulho seco.

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