segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Morre Jovem o que os Deuses Amam - Part III




A menina Ofélia levanta os olhos e parece algo surpreendida por ter aquele homem que nunca viu na sua frente. O Sr. Valadas parece não dar por nada. Em voz alta diz “Fernando, meu velho, então que tenho o privilégio de receber hoje?”, enquanto coloca o braço grande e gordo por cima dos ombros de um magrinho e envergonhado Pessoa. Percorrem o corredor pequeno pelo corpo do Sr. Valadas até ao seu escritório abafado do fumo do charuto aceso em cima da secretária. Uma janela pequenina deixava entrar a claridade existente. Sentam-se, um à frente do outro. Fernando fala do que lhe traz desta vez. Os assuntos, os temas, os intervenientes. O Sr. Valadas ouve em silêncio para no fim dizer que sim, e agradece. Mas pede para que os próximos trabalhos sejam menos literais “a malta não quer literatura, meu velho, não te esqueças que és um correspondente. Só isso. Meu velho, desculpa a frontalidade, mas não tens jeito para essas coisas da literatura. Quanto tempo tiveste a Íbis? Aquilo foi um falhanço completo. A malta não tem paciência para isso das letras, livros e tretas, pá! O dinheirinho é que é importante”. Despedem-se com um aperto de mão e o Sr. Valadas pede para passar pela menina Ofélia para deixar os textos e receber o cheque. “É a que está à entrada do lado esquerdo. Aquele do cabelo preto e rosto branco como a lixivia. Não fala com quase ninguém a danada”. À saída ficou na sua frente sem saber como lhe chamar a atenção. Até que Ofélia olha para ele que entrega a pasta encarnada. Ofélia abre uma gaveta onde tira o livre de cheque. Preenche-o e para na altura de escrever o nome. Pergunta à ordem de quem é passado. “A menina pode passar à ordem de Fernandinho”, diz com um sorriso tosco que lhe arreganha o bigode.

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