quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Pequeno-almoço em Pluto

À entrada estava alguém que anotava os nomes. Tive de dar o meu. Circulam copos de pé alto com champagne lá dentro. No estômago ainda tenho o almoço, uma massa enrolada num prato fundo com um creme de vegetais e batata.  Entrei para um sala de paredes brancas e arte na parede.  Pelo menos chamam-lhe isso. “Se não tem mais de 200 anos não é arte!” dito ao meu lado. Olho, é a outra única pessoa que vou conhecer ali está. Bebe por daqueles copos de pé alto. Cumprimentamo-nos. Odeio-o naquele momento. Tinha ido a casa e vinha à civil. Eu ainda vinha a arrastar o meu fato e a gravata. Alarguei o nó. Desabotoei os botões das mangas. Um hábito que me ficou não sei bem de onde. As vozes que passeiam-seno ar estão camufladas pela música. Algo que tem batidas por segundo e distorção. Alguém parecido com Skrilex está atrás de um Mac com auscultadores Beat by DRE na cabeça. Abana-se. Abana a cabeça. Abana tudo junto. Pelo espaço algumas pessoas abanam-se também. Deixou de se dançar, passou-se a abanar. Gosto disso porque não sei dançar. E abanar parece-me bastante mais simples. Abano-me até ao pé dela. De copo na mão e cabelo solto fala com fornecedores. Ou clientes. Não sei. Sou o plus one nestas coisas. Cumprimento-a e deixo-a a falar de negócios. Subo as escadas. Passo pelo tipo que se abana. O Skrilex de serviço. O gajo pisca-me o olhos a dizer “boa música, hein?”. Pois claro que é.  O espaço tem um terraço. Iluminado com luzes roxas e outras que são neons. Está cheio de pessoal cool a fumar. O tipo lá de baixo está ali em cima também a fumar um cigarro. Alguém para falar. Encosto-me ao muro e enrolo o cachecol no pescoço por causa do frio. Ele também tem um cachecol. O dele parece de seda. Daqueles bonitos e à maneira. O meu é de lã. Estende-me o maço, “Queres?”, não obrigado respondo. Já lá vão uns meses valentes. Alguém fuma qualquer coisa que lança fumo doce para o ar. Ah lisboa, pareces Bushwick.

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