segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Voltamos sempre ao ponto de partida






Há uma cena na Fogueira das Vaidades, o filme não o livro, em que Peter Fallow entra numa sala para aclamação, onde rodeado de fotógrafos fará a apresentação do seu livro. Pois eu entrei em casa dos meus pais, subi as escadas e fechei-me no meu quarto. Deitei-me na cama. Não liguei o computador e coloquei o telefone no silêncio. Não vinha a casa há dois dias. E nos outros em que vim era entrada por saída. Tinha de ir sempre a qualquer lado. Falar com alguém. Agora terminou. A agenda está livre. E eu nem tenho aquilo a que se chama de agenda. Anoto sempre as coisas em cartões que coloco na carteira ou em notas no telemóvel que me esqueço de ver. Só sai do quarto à noite para jantar. À mesa eu, os meus pais e o meu irmão. Parecia como se nada se tivesse passado. O tempo tivesse congelado e voltássemos atrás no tempo ali estávamos todos. Os meus pais nunca leram o que escrevi. Preferiram ignorar. Mas compraram o livro e colocaram na estante da sala em perfeito destaque. O meu irmão diz que tentou ler. Não passou das primeiras páginas, disse que era uma miséria. Disse por outras palavras, mais simpáticas. Aquele género de coisas quando não queremos magoar. Que não era muito o seu tipo de livro, que prefere literatura fantástica. Eu agradeci-lhe a meia sinceridade. Desde logo por achar que aquilo poderia levar o adjectivo de literatura. No final do Jantar o meu pai levantou-se e foi para a sala. Sentar-se no seu canto de sempre no sofá de sempre e pegar no último livro que esteja a ler. O meu irmão correu para o quarto para descer de seguida a dizer que ia sair. Eu levantei a mesa com a minha mãe. Ajudei-a a lavar a louça. Temos uma máquina de lavar a louça, mas quando a minha mãe a lava à mão é porque quer pensar ou falar. Com tudo arrumado e o som da televisão nas nossas costas a despedir-se do telejornal desse dia sentei-me à mesa. Abri a janela e acendi um cigarro. A minha mãe sentou-se à minha frente. Por momentos fingiu que estava interessada numa revista. Depois lá me perguntou quais eram agora os meus planos. "Sei lá!" Não tinha melhor resposta.

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