domingo, 31 de março de 2013

Eu sou. Tu és. Nós lemos



Estava a arrumar os livros que tenho para ler. E as revistas. Os artigos digitalizados. Romances ao lado de Vanity Fairs. Algumas New York Mags que consigo que me tragam - nunca as encontro em Lisboa. A New Yorker leio no iPad. Onde faço colagens de imagens. O Gato preto andava por ali a cheirar. E abri uma revista ao calhas. Sentei-me no chão e carreguei play no deck. Comecei a ouvir Iron Maiden. O artigo era sobre retratos psicológicos com base no que se leu nos últimos 6 meses.

Levanto-me e vou até onde estão todos os outros livros. Os livros estão longe das revistas. E recordo que nunca gosto que comecem a olhar para o que tenho ali. Se julgamos os autores, podemos sempre julgar quem lê. E eu não gosto de ser julgado. Um amigo meu disse-me um dia que há livros que nunca leva à rua. E apenas os comprou quando comprou mais alguma coisa para ajudar a esconder. Como as miúdas que se vestem com a roupa da mãe quando crescem e se vêm ao espelho. Sonham um dia usar saltos altos. Mas não ainda. Ainda não os levam à rua. Mesmo quando a mãe não está a olhar.

No outro dia sai do trabalho e fui ao Grémio do Carmo. Um amigo meu entrou e viu-me. Sentou-se na minha mesa e pousou um livro e um DVD. "Mataram a Cotovia" e "My Own Idaho". Não sei como começamos a falar.Quando ele esteve em Nova Iorque foi ao Met e viu a exposição sobre Prada. Eu disse que tinha ido no ano anterior e visto a de McQueen. E gostaste? Sim. E não sei como daí continuamos a conversa. Mas acabei a contar-lhe do artigo dos leituras dos últimos 6 meses. Disse também que gostava de ir para um sitio pequeno, ao pé do mar.

Quando fui para casa nesse dia tirei da mochila o livro que estava a ler. "Kafka à Beira-mar". E na parte em que uma das personagens fica sozinho numa montanha sem água canalizada nem electricidade. Só tem como entretém livros. E fiquei a pensar que os livros podem ser de uma solidão tremenda. Liguei os auscultadores e comecei a ouvir Iron Maiden e não pensei mais nisso. Ao chegar a casa escrevi um mail a um outro amigo a contar o que tinha pensado. A resposta não demorou muito. Mas vinha só com uma pergunta: Coleccionares ténis também não pode ser de uma solidão tremenda?

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