quarta-feira, 6 de março de 2013

Foi assim que ela me assaltou o coração



Chegou com a arma na mão. Apontou-me ao peito enquanto me piscava o olho direito. O carro atrás brilhava com o sol no capot. Não a conseguia ver bem. Ela estava recortada pela luz. Ficou em silêncio à espera que eu dissesse alguma coisa. Deu um passo para a frente e baixou a arma. sentia o cano frio do aço na perna por cima das calças. Colocou os lábios muito perto do meu ouvido. E devagarinho, muito devagarinho preparou-se para falar. Ouvia a respiração lenta e calma. Vens comigo e não vais dizer o que quer seja. Vais sentar-te ao meu lado no carro e não vais dizer nada até que eu diga que o podes fazer. E foi assim que fiz. Antes de acelerar acendeu um cigarro e conduziu por uma estrada aos esses. Os cabelos voavam com o vento. Eu agarrava-me ao banco. Ela riu-se alto, mesmo por cima do vento consegui ouvir. Depois, ignorando a estrada olhou para mim. Tive medo. Muito medo. Não tens que ter medo, nunca vamos saber o que está ali a seguir àquela curva, mas vamos tentar. E acelerou mais. Continua até hoje a acelerar. E eu aprendi a olhar para ela e ignorar a estrada. 

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