segunda-feira, 8 de abril de 2013

Consegues viver do que te enche os olhos?



Estou deitado no sofá de olhos fechados. Camille, a pequena Buldogue Francês dorme aos meus pés. O telemóvel toca despertando-me de uma dormência sonolenta. O relógio de números encarnados da box diz que são onze horas certas. Atendi ainda com a voz arrastada. Do outro lado a voz dela. Num timbre certo e na entoação correcta pergunta-me, acordei-te? Não estava dormir, estava apenas deitado, respondo. O que é verdade. Do outro lado não oiço nada por uns segundos. Levanto-me e vou até à janela. Preciso que me faças um favor, diz-me ela. Vou enviar-te por mensagem. Mas não te esqueças que tens de levar Camille à rua. Oiço por detrás os sons de um escritório. Barulhos mecânicos de computadores. Vozes abafadas. Algo que me parece música e outros telefones a tocar. Estendo a mão para a mesa de centro e tiro um cigarro que acendo. Está bem, envia-me a mensagem, então, digo-lhe. Ela faz uma pausa. Antes de estares deitado o que estavas a fazer?, Olho para a televisão que sem som passa imagens. Estava a ver um filme. O mesmo de sempre? Não lhe respondo logo. Apago o cigarro primeiro no cinzeiro que está em cima da mesa de centro. Sim, o mesmo de sempre. Ela não me responde. Diz apenas beijinhos e que me vai mandar a mensagem e para não me esquecer do jantar mais logo. As pessoas vão aparecer por volta das oito. Digo-lhe que tenho tudo preparado, o que é mentira. Desligamos. Pouso no telefone na mesa de centro e fico olhar para a televisão por uns segundos. Está a meio do Mulholland Drive.

2 comentários:

R. del Piño disse...

Naomi Watts antes de cenas oscarizadas. :-) Boa escolha.

Quanto ao texto, tinha que te dizer algo que penso algum dia ter já escrito. tens uma memória descritiva fenomenal, daquelas que nos faz viajar para o tempo e para o espaço das tuas linhas.

E disse...

Obrigado. Até porque este é o primeiro parágrafo de uma novela que estou a escrever.