quarta-feira, 17 de abril de 2013

Conversas com ela - II

Lisboa voltou a ter sol. E divago, que é o que faço melhor. E digo-lhe o que penso sem filtro. Sabes que ainda não existe uma interpretação assumida como correcta do Livro do Desassossego? Ela ouve-me sempre com paciência. Coloca a maquina fotográfica dentro da mala antes de me dizer, e então? E eu sei o que é aquele então. Um então, de que te interessa isso? Tens a tua interpretação. E é verdade. 

Sentamo-nos numa esplanada da Avenida da Liberdade. Eu peço um café ela pede um sumo de laranja. Ela diz-me que nunca leu o livro. Porque, diz, prefere ouvir-me falar sobre sobre o que lá está escrito. Um fragmentário. Um diário. O primeiro blog antes da era digital. Um blog tornado livro pela escrita de um génio. Vês, diz-me ela, é isso que eu gosto. 


Porque quem é Bernardo Soares? Ela diz-me que é um heterónimo. Sim e não. É Pessoa, não sendo Pessoa. A sua personalidade despida da vivência do dia a dia. E que é quase impossível, diz-me ela novamente. Sim, quase. Pessoa conheceu Bernardo, ou vive-versa. O que quer dizer que se conheceu a ele mesmo, insiste ela. E tem uma certa razão. Não nos conhecemos pelo que criamos? Bernardo Soares é o alter ego da ficção de Pessoa. O Avatar daquele blog em papel.

3 comentários:

Sue disse...

E quem é que te ofereceu o livro, quem foi? :P

E disse...

Quem sabe o que eu gosto ainda antes de eu próprio saber

Sue disse...

Ainda bem que o admites em publico :P