terça-feira, 2 de abril de 2013

Vou só consultar o Facebook, ver os mails, as novidades no instagram e,já agora, o bloglovin




Sentei-me à mesa do café à sua frente. Disse-me uma boa tarde e continuou a ler o ípsilon. Bebi o meu café e ele não mudava de página. Ele puxou de um cigarro que acendeu. Continuava em silêncio a fingir que estava a ler. Comecei eu a ler também. Fui jantar com ela ontem, disse ele. Pousei o jornal e olhei para ele. Tu sabes, continuou, aquela minha amiga. Agora estava interessado. Então?, perguntei. Deu mais uma passa e apagou o cigarro. Correu mal, merda, disse, correu tudo mal.

Então correu mal porque não houve logo conversa intima. E correu tudo mal porque nos intervalos da conversa mexiam no telemóvel. E cada um via pelo facebook que o outro comentava estados de pessoas que não estavam à mesa com eles. Podia ser um caso de multitasking. Uma espécie "multiple date". Ou apenas um sinal de desinteresse de quem tinham à frente. Ou apenas e só um sinal de uma muleta tecnológica. Ou, ainda, tudo junto.

Há uns tempo li um artigo sobre as crianças estarem a perder a capacidade de ler os rostos. Não conseguirem perceber a dor, o desgosto, a alegria, a simpatia. A pessoa que têm à frente ser apenas um computador de carne e osso. E sem duplo clic. O que é triste. Porque sem essa capacidade perdem a capacidade de imaginação. E sem imaginação não há sonhos. E eu não consigo conceber uma vida sem imaginação e sem sonhos. Sonhos meus. Pela minha imaginação. Não quero ser um Neo a quem um dia me perguntam: o comprimido azul ou encarnado?

2 comentários:

Lia disse...

Este foi um dos melhores textos que já li sobre o "consumismo facebookiano". Vejo pela minha irmã de 13 anos que esta geração está totalmente avariada, e (des)ligada (de) a tanta coisa.

E disse...

Somos todos culpados. Ainda que eu acho que o facebook veio satisfazer uma necessidade, tornou-se numa outra coisa