Então, é assim

Escrevo ficção nos intervalos de não escrever ficção. E escrevo não ficção ficcionando a minha vida. Às tantas já não sei o que é real. Mas isso não importa. Sou como o outro, se não está escrito não existe. Ainda não consegui encontrar um espaço para incluir as fotografias nesta minha teoria. Se existe uma imagem, será que existe?

 

 

Passava pelo Príncipe Real com ela quando pensava nisto. Pensava em voz alta. Ela ouvia-me. Por vezes ouve-me para me fazer a vontade. Deve achar um perfeito disparate as minhas divagações. Aborreço-te? Pergunto-lhe muitas vezes. Ela diz que não e dá-me um beijo na cara como a incentivar-me que continue. Mas eu sei que a aborreço. E calo-me de seguida. Comprámos uma fatia de Pizza que comemos no jardim, sentados num banco à sombra. Depois ficámos um bocadinho ali sentados. Eu comecei a ler um livro que trazia comigo e ela deitou-se no meu colo. Lia também. O que estás a ler? Perguntei-lhe. Ela mostrou-me a capa. O livro era sobre a relação de Sartre e Beauvoir . Não sabia que tinhas esse livro, disse-lhe. E ela disse-me que não sabe quantos ténis tenho.

Depois fomos ao Espaço B, ela queria comprar uma prenda para uma amiga que faz anos. Eu não me importei. Gosto de lá ir. Gosto de ver os livros de capas bonitas que eles lá têm. Gosto de ver os ténis e os calções de banho da Orlendar Brown. Ela diz que não percebo porque gosto daqueles calções que são demasiado simples. Mas eu não me importo que ela diga isso.