Tal como a outra Madame, vive perdida na literatura. Ainda que esta seja virtual. Utiliza uma ligação de fibra óptica ou ADSL para fugir à sua realidade de Freixo de Espada à Cinta. Acima das suas possibilidades. Não há malas Louis Vuitton que escapem. Mesmo que se tenha de acordar às cinco da manhã para subir quase ao pé do castelo para ir à feira. Não existem viagens que não tenham como destino a Riviera Francesa. Basta digitar www.tumblr.com. Paris ao virar da esquina. Todos dias Garance Doré publica qualquer coisinha. As perfumarias e os vestidos Chanel. Os romances são criados a cada comentário. Não é fiel a nenhum produto de beauty. O próximo é sempre o melhor do mundo. Mesmo quando há um 3 em 1. Isso é como o Charles. Simples, acessível e ali perto. Mas os outros estão sempre embrulhados em rótulos mais giros. Como Léon. Ainda que o produto seja novo. Ainda por provar o que vale. E já se sabe, nunca se deve confiar num advogado: prometem sempre mais do que cumprem. Mas entretanto já se deixou a província e veio-se morar para Lisboa. Porque se veio estudar ou para um estágio. Ou conseguiu-se um cargo de assistente que se veio a revelar uma pequena fraude para tirar cafés em vestidos bonitos. Mas aqui todos são mais giros e engraçados. Têm longas barbas penteadas. Bigodes de ponta viradas. Acentuados riscos ao lado. E são eles que mostram os calcanhares nus. Mesmo que a cena original seja de um outro livro. Não há limites para a imaginação e cruzamento de realidades. Depois aparece alguém que parece ter mais que os outros. faz compras no bairro alto e compra acessórios na Avenida. Manda vir coisas da Urban Outifitters. É um enganador, um ilusionista como Rodolphe. Provoca com o seu sorriso de dentes bracos branqueados com um voucher do sapo. Tem sotaque de boas famílias. Mas um dia tudo acaba. Foi-se o plafond de dados no iphone. Acabou-se o instagram. O google acabou com o reader e esqueceu-se de pagar a conta da internet. A madame ficou gravemente doente. Terminou tudo. Mas ali, na prateleira da casa de banho no T1 do Príncipe Real ainda está o 3 em 1. O produto que é fiel, eficiente e certo. Porque tudo falha, menos o que é simples.
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