segunda-feira, 15 de julho de 2013

Manhãs no Chiado

 
 
Todas as manhãs são custosas. Definitivamente não sou uma morning person. O que me chateia. Gostava de ser. É o que penso quando faço o nó da gravata de lã macia. Ideal para estes dias. Mais quentes. Calcei os brogues pretos e vim-me embora.

 
Cheguei ao escritório e salve-se a Radar. Num espaço de uma hora ouvi Morrisey e The Doors. Logo as minhas músicas preferidas dos meus álbuns preferidos. Tive sorte. Segundas-feiras são alturas de mudanças. Pequenas mudanças. O dia em que todos se esmeram mais. O meu colega da frente trouxe a sua melhor gravata. Uma gravata Carolina Herrera, oferecida pela mulher, apregoou ele. A minha colega ao fundo da sala trás os seus sapatos preferidos. Sei que são os sapatos preferidos porque quando tem um encontro às sextas-feiras é com eles que vem. Uns sapatos de salto alto. Vertiginosos saltos altos. Ela que já é alta. Muito magra e direita. O cabelo pelos ombros. Hoje vem de vestido.

 
Ao som de Black Rebel Motorcycle Club, novamente a Radar, decidi ir lá abaixo beber um café. Penso sempre onde vou. Qual o café onde vou desta vez? Nestas alturas perguntou-me se o nosso Chiado é o nosso SoHo, o nosso Convent Garden, a nossa Saint Honoré. Gosto destas comparações. Num jantar recente discutia com uns amigos se a nossa costa alentejana é a nossa Califórnia ou a nossa Saint Barths. Não chegámos a qualquer decisão. Anda que o vinho fosse um bom néctar para decisões parvas.

 
Cá em baixo, hoje, o Chiado tem sol. O que o torna mais bonito. São meia dúzias de ruas. Onde as miúdas passeiam-se de calções curtos. Há um faculdade perto. Daqueles da criatividade e de coisas bonitas. Belas-artes. Conheço uma escultora que andou lá. O meu circulo de amigos tem mais gente de outras áreas que da minha. O que será que isso quer dizer?

 
Passa por mim um tipo com pinta. Vem sozinho a olhar para os edifícios. Demora-se na montra da H&M. Tem uns óculos escuros Persol. Daquele modelo que leva lentes escuras por cima das de ver. Ou será só para compor o modelo. O cabelo numa poupa cuidada. Curtinho nos lados. Corte à inglês. É estas coisas que se aprende a frequentar barbearias de bairro em vez de salões.

 
Voltei à minha secretária e a Radar dá-me agora Queens Of The Stone Age. É impossível não gostar da Radar.

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