sexta-feira, 12 de julho de 2013

Um vestido Thom Brown e os Maias



A descrição da casa que os Maias vieram habitar em Lisboa é um teste. Um teste a quem quer ler o livro. Um teste. Uma descrição maravilhosa, como nenhuma foi feita. Principalmente em língua portuguesa. Se conseguimos passar a descrição entramos no melhor livro português. O que é lixado. Lixado como saber que ela ficaria muito bonita num vestido Thom Brown. Porque há coisas que são destinadas a pessoas e podem não saber. Ela gosta de Burberrys. Eu também. Mas ela é um bonito vestido de Thom Brown. Como ela diz que me gosta de ver de barba. E eu após duas semanas desfaço-a. As coisas são como são. Dizem-me, frase feita para terminar a conversa.

Há umas semanas, quando o tempo ainda era fresco saímos. Não me recordo muito bem onde fomos. Eu levava a máquina analógica. Comprámos um bolo que comemos num banco de jardim. Ela levava umas sabrinas pretas que me faziam lembrar Audrey. E cabelo apanhado. Há alguma coisa de incrivelmente belo na simplicidade. Sem artifícios. Tirei-lhe várias fotografias. Quase nenhuma se via o rosto. Ou apenas de perfil. Gosto particularmente desse género de fotografias. Eu quis entrar numa livraria quando nos levantámos. Ela sabe que leio vários livros ao mesmo tempo. Devemos deixar de coleccionar livros e viver a vida. É verdade, é uma das frases de uma crónica de Inês Menezes que eu recordo na quase totalidade. E concordo. Porque sempre que começo a ler começo a viver. Gostava de te comprar um vestido Thom Brown, disse-lhe a determinada altura.

2 comentários:

Lia disse...

E eu tenho exactamente a mesma opinião acerca d'Os Maias... Depois de se passar a "parte pior" (que não o é, porque a casa para onde nos transportamos é realmente linda), é um dos melhores livros de sempre, escritos na nossa lingua.

Ainda há quem me olhe com um ar completamente escandalizado quando digo que adorei lê-lo (ainda na altura da escola).

E disse...

Tenho de confessar que só consegui à segunda. Agora dou por mim a ir ler essa passagem quando quero descrever algo. Aprende-se muito a reler.

Ainda há quem ache isso? Bem, talvez prefiram gostem de ler outras coisas. Não podemos fazer nada.