quinta-feira, 29 de agosto de 2013

E Se Faltasse Um Quadrado No Chocolate?

Aparentemente, deve-se a um português. Vender uma tabelete de chocolate sem um quadrado parece ser um terreno perigoso. Afinal, onde está o produto que comprámos?
 
Porra, eu quero o meu chocolate!
 
Eu gosto de publicidade. É o meu mundo afectivo. É o mundo D`Ela. E Ela é muito boa nisso. Mas eu gosto de uma boa ideia. Como qualquer pessoa. Claro que a ideia de uma tabelete sem um quadrado, per si, não é grande ideia. A ideia de uma tabelete sem um quadrado, mas com um código no seu lugar para enviar esse quadrado a alguém, já é uma ideia interessante.
 
Tão interessante quanto um pitch de Don Draper.
 
Hello everybody,
 
Diria Don Draper
 
Imaginem...
 
Continuaria Don Draper em português, afinal ele é o maior
 
Uma tabele de Chocolate. O que é que imaginam, Milka. O chocolate de quando éramos todos crianças. Quando tudo o que interessava era chegar da escola, largar a mochila, ir lá fora jogar a qualquer coisa e comer uma tabelete de chocolate.
 
Tudo isto é dito em pé. Com uma mão no bolso e as sobrancelhas a acompanharem a entoação da voz.
 
E o chocolate que todos queremos comer é Milka. Corremos para a nossa mãe. Ela sorri para nós. Faz-nos uma festa na cara. E aquele gesto de carinho. De união. De ternura. É o momento antes do chocolate. Delicioso. Embrulhado em papel lilás.
 
Todos estão em suspenso a ouvir Don Draper. Cigarros queimam-se sozinhos nos dedos. As bocas salivam. Sentem o gosto do chocolate.
 
E a nossa mãe abre o armário e dá-nos um chocolate. Uma tabelete de chocolate Milka. E ela olha para nós. Em suspenso. Gosta de ver a nossa alegria quando desembrulhamos o chocolate. E...
 
Silêncio na sala. Don faz um momento para sorrir. Para todos ficarem mais em suspenso. Já está a imaginar o anúncio.
 
E, falta um quadrado. Uma tabelete de Chocolate Milka sem um quadrado delicioso.
 
Silêncio.
 
SEM UM QUADRADO?
 
Sim, sim, falta um quadrado, mas tem um código para enviarmos o quadrado que falta.
 
MAS FALTA UM QUADRADO?!
 
Sim, sim, mas podemos enviar a quem quisermos o quadrado que falta.
 
MAS FALTA UM QUADRADO?!
 
Sim, sim, mas podemos até enviar esse quadrado para nós.
 
MAS QUERO COMER A TABELETE TODA AGORA.
 
Mas aquele quadrado há-de chegar.
 
MAS SÓ UM QUADRADO DEPOIS É INSUFICIENTE.
 
Silêncio na sala. Rostos fechados. Acendem-se novos cigarros. Todos vão saindo lentamente. Don fica para trás. Sentado sozinho. Abre uma tabelete de chocolate que deixaram para trás.
 
MERDA, FALTA UM QUADRADO.
 
Roger entra na sala de novo. Tenta confortar Don. Mas diz-lhe que ele já teve melhor ideias. Que o seu pitch estava a ser perfeito até dizer que que falta um quadrado.
 
Mas...
 
Não há mas. Se o chocolate substitui o sexo, não ter o último quadrado é o quê? Não ter o orgasmo?
 
 

6 comentários:

Mustache disse...

Eu achei a ideia genial.
Ainda para mais num momento em que parece haver de tudo neste mundo, excepto partilha..

E, se formos a ver, tens uma tabelete toda. Pode é ter uma forma diferente e parecer que lhe falta um quadrado. Mas o que compras, está tudo lá. Não é que compres a tabelete e depois lá vá alguém tirar-te um quadrado.

E mais. Mesmo assim, se achares que te falta um quadrado, o penúltimo passa a ser o último, e tens orgasmo à mesma. :)

E disse...

Genial - é superlativo - mas interessante é a ideia conceito. O resultado, comprares uma tabelete com um quadrado em falta - ainda que esteja lá tudo e parecer apenas que falte um quadrado - é pouco. E esperar que alguém utilize o código para pedir o quadrado em falta é ingenuidade. Decerto haverá quem o faça, no entanto. Mas, e voltando a recorrer a personagens fictícias, everybody lies, diria Dr. House. O que quer dizer que muitos vão dizer que vão mandar vir o quadrado mas vão continuar com as suas vidinhas. Ou então, e voltando a recorrer a Don Draper, o amor pelo próximo não existe, foi inventado por pessoas como ele (disse ele a determinada altura, não me lembro da série em concreto).

Porque tudo se vai resumir a: falta um quadrado.

Todavia, dirás tu, e outros entendido na ciência da coisa, é publicidade. Está a ser falado. É inovador. É original. Principalmente andando a passar a ideia - não sei, vem nas notícias - que a Milka teve de transformar a sua produção.

Mas tudo se resume. falta um quadrado.

E, bem, poderemos ter sempre o orgasmo à mesma. Afinal de contas, continua a haver chocolate. Mas será algo do género, preparas-te para um doce e longa sessão de "love making" e a meio te dizem, despacha lá a coisa que afinal é uma rapidinha.

Mustache disse...

Genial - é relativo - mas, de facto, bastante interessante.
Não sei até que ponto é que as pessoas não irão, efetivamente, aderir a esta ideia. Vivemos num mundo onde tudo o que se torna viral e quando mais incomum, mais as pessoas vão atrás. Vemos isso em tanta coisa do nosso quotidiano - olha o Out Jazz que até há pouco tempo passava ao lado de muita gente e agora arrasta pequenas multidões - que é dificil pensar que não haverá um boa adesão a esta campanha de marketing e publicidade. Se formos a juntar a isto, o facto das pessoas viverem tão centradas em si próprias que cada oportunidade para mostrarem que são altruístas - mesmo que seja só para passar essa imagem - é agarrada com unhas e dentes e, logo de seguida, mostrada em tudo o que é rede social. Queres apostar que a primeira coisa que as pessoas vão fazer é enviar o chocolate, em falta, a alguém e mostrar no facebook, instagram, fazer um tweet ou ir escrever um post sobre isso "Enviei hoje o meu primeiro Milka!".

Longe de mim ser um entendido, embora o queira ser, é verdade. Terminei este ano o meu primeiro ano da licenciatura de Marketing e Publicidade - que estou a adorar - e quero que o meu nome seja conhecido por uma campanha deste género. Se tiveram que mudar todo o seu sistema de produção, não sei e acho que nem é por aí o caminho, mas sim a ideia - mais uma vez, na minha opinião, genial - que alguém teve. Tu podes nem ter um produto muito bom, mas com a publicidade certa, vendes milhões. Não te lembras daquela imagem que apareceu a circular na net sobre a McDonald's, em que estava um hamburger deles mas em vez de carne tinha lá duas grandes poias e o slogan era (mais ou menos isto): "Com a publicidade certa, até lhe vendemos merda.". Claro que não era oficial deles e sim a gozar.

E se formos a pensar que falta um quadrado que, supostamente, é o último, volto a dizer o que já disse. Terás sempre um último pedaço de chocolate para comer, até mesmo se fosse só um quadrado, terias o primeiro e último junto. Não seria uma rapidinha, mas não seriam os 10minutos habituais.

Mas entendo o que queres dizer, da mesma forma que penso que entendes o que digo (ou tento dizer).

Abraço

E disse...

Começo com uma provocação: 10 minutos habituais?

E agora respondendo. E mais uma vez recorrendo a Dr House: everybody lies, ou seja, e no teu argumento, as pessoas vão fazer mas não com o intuito da marca. Simplesmente vão fazer e partilhar na web. Duas falácias, parecer e não ser, o inverso da mulher de César, as pessoas vão mandar vir, ou enviar, o quadrado mas não sentido que o querem fazer. O que nos leva para a segunda falácia, as pessoas estão cada vez mais egocentradas, é verdade. Mas não se vão agarrar a estas manifestações de mostrarem que se preocupam com o outro. Não tenho com que fundamentar, apenas o que sinto. Talvez porque o corpo e a alma são preguiçosos. Talvez por outros factores que não esteja a ponderar.


Quanto à campanha de que dás o exemplo. O consumidor não é estúpido. Pelo menos nao tanto como se pensa. Tal como o cidadão médio. Um dos erros que se faz é fazer esses juízos de valor. Como jurista, já os fiz. Avaliei mal as pessoas. Achava que iam em três cantigas e duas citações de leis. Acontece a primeira, não a segunda. A lei, tal como uma boa campanha, ilude, deslumbra, no inicio, depois...

Um outro exemplo, que nos é caro. Uma mulher "bem publicitada", engana-te a primeira vez. Depois... Bem, so aguentas os tais 10 minutos porque queres despachar a coisa.

Mas, como disse, no post, a ideia conceito é interessante. No plano. Na teoria. Numa sala de aula. Já pratica tenho muitas duvidas. E não é a questao, que temos discutido, é o elemento subjectivo e emotivo de que falta um quadrado.

Abraço

Carol disse...

So abri a noticia depois de a ver partilhada umas boas vezes no facebook, não estava curiosa por ai além. Lá abri e confesso que fiquei reticente. Foi Um bom golpe publicitário, tudo fala na milka. Mas até que ponto é mesmo bom? E depois pensei "o que é que isso interessa?". A verdade é que pouco se acabar por render uns milhões.. E que é diferente é. Sim, acho que as pessoas vão aderir a pedir ou enviar o quadrado em falta mas para parecer divertido ou o que seja. Estamos a entrar numa era assustadora de que se faz para aparecer, não porque se sente ou quer fazer o outro feliz. Assusta.. Mas que o português vai na boca do povo vai!

E disse...

Eu sinto que vão enviar/ou pedir o quadrado talvez para experimentar meia dúzia de vezes. Ou então para mostrar, como o Mustache disse em cima. Mas, ao fazerem, não ficam a ver. Quem recebe é que vê. E hoje, nesta altura em que existe uma solidariedade paga - que é melhor que nada, ainda assim - as pessoas querem ver as suas boas acções.

Mas, eu acho a ideia conceito, muito boa, interessante. A questão da partilha. A questão da efectividade do chocolate associado à ternura. Contudo, acho que na prática, será um bocado flop. As pessoas vão comprar um tabelete e, mesmo que a percentagem de chocolate seja a mesma, a questão visual vai-se sobrepor: falta um quadrado!