terça-feira, 27 de agosto de 2013

Os Seres Que Não Existem

 "I am not now, nor have I ever been, a Hipster"
(assim começa um artigo no New York Observer)
Ler o livro é ler um monte de ideias pré-concebidas. Algumas fazem sentido. Outras, a mim, como europeu, não fazem.

A história poderia começar era uma vez ou Há muitos anos atrás. Vou escolher a segunda. Há uns anos, tinha eu 12 ou 13, li pela primeira vez "Pela Estrada Fora". E o livro fez-me imenso sentido. Gostei. E quis ser como Jack. O que se tornou uma coisa repetida na minha vida. Querer ser como os autores dos livros que gostava. O que confirma Bukowski, dantes as vidas do autores eram maiores que os seus livros. Enfim, li o livro. E pelo meio havia a expressão hipsters. Oposto de Sal, o Jack do livro. Não percebi o alcance daquela palavra. Mas esses hipsters não me interessavam. Queria era saber a história de Sal e Dean. Eles eram Beat. Eram cool. Os outros, os hipsters, não queriam saber das convenções. Não queriam saber daquela música que Sal e Dean gostavam. Não eram cool, esses hipsters. 

Anos mais tarde, reli o livro. Duas coisas: o livro não teve o mesmo impacto  - o que só confirma que há livros que devem ser lidos em determinadas alturas - e já estava familiarizado com o termo hipster. Não me recordo onde foi a primeira vez que li a sua pretensa definição. Mas, desde aí, e até hoje, o termo tornou-se depreciativo. Ora, já o era no livro de Jack. Eles, os hipsters, eram o oposto dos beats. Tal como os Mods se tornaram o oposto dos Rockers. Mas a verdade é que parece que todos odeiam os hipsters. Mas eles não existem. Não conheço ninguém que diga ser hipster. E posso provar.

Há uns meses fui a um evento de bicicletas. Lá fui na minha single speed sozinho. Não conhecia ninguém. O meu objectivo era ver bicicletas. Gosto de bicicletas como objectos. Acho-as giras. Lá, os ciclistas urbanos hardcore, de fixies. Alguns bom bonés de ciclista, tatuagens e bigodes. E, sentado ao lado deles, esperava que aquilo começasse. Até que oiço, isto na tarda está aí cheio de hipsters. Quem dizia era um deles. Achei irónico. Eles, visualmente, personificavam o que um desses hipsers seria. Mas não se viam como um deles. Havia, outros. Os que seriam hipsters. Mas eu só vi chegarem amigos deles.

Também há uns meses um amigo meu disse-me, tive para te ligar. Então? Perguntei. Tinha convites para irmos à festa da Vice, mas estavas de férias. Ah, ok, respondi. Calculei que gostasses de ir, a esss festas hipsters. Tu, que andas de bicicletas e coiso.

Então, um hipster tem bicicleta.

Então, os hipsters não existem.

Então, os hipsters geram ódios.

Então, os que parecem ser, não são.

E isto é limitativo. E redutor. O que faz com que seja depreciativo, por ser tão pouco. Mas existe um livro. O link lá em cima.   


Outras perspectivas do livro/ensaio aqui e aqui.


2 comentários:

CatParkinson disse...

Ninguem quer vestir a carapuça! Parece que são como os gambuzinos...mas eles existem!!! Penso é que para alem de ser claramente um conceito depreciativo, é um conceito muito generalizado já e adaptado as visões de cada um....andas de bicicleta és hipster, tens bigode és hipster, usas óculos de massa és hipster, és contra o sistema és hipster, só ouves bandas com menos de 100 visualizações no youtube és hipster...e por ai fora! Não esquecer aquele vídeo maravilha que passou num programa da tvi de um tipo que dizia que era hipster e depois veio dizer que aquilo era a brincar...que figura.

E disse...

Sim, sim, esse vídeo foi fantástico - ou não, dependente do ponto de vista. Hoje é a generalização. E a descontextualização.

Eu, sinceramente, acho que é porque, desde há muitos anos, não havia uma "tribo urbana" que entrasse na sociedade, mas que, em vez de adolescentes - como os emos (mais recentes) ou os nu-metal ou dreads (no final dos anos 90) - fosse composta por jovens adultos. E é isto que irrita tanta gente.

Porque se formos a ver, os pais dos so-called hipsters modernos já passam até dos 30.

O que cria que os jovens adultos, ditos normais, olhem para este outros jovens adultos com alguma inveja e, como se sabe, a inveja é a mãe do escárnio. E os jovens adultos "hipsters" olham para eles próprios com alguma desconfiança. Porque nascem como o oposto do nilismo, as suas vidas têm razão, aquelas pequenas coisas dão razão à vida. O oposto do corporativismos das empresas. mas quantos mais se juntam a eles, mais eles desprezam esses novos membros. E pronto, pescadinha de rabo na boca.

E pronto, muito sumariamente, é esta a minha visão.