segunda-feira, 2 de setembro de 2013

A Vida No Meio Da Tabela

Estávamos todos no meio de uma festa da aldeia. Onde as noites são claras porque todos os postes estão iluminados. Lá longe um palco, onde artistas de variedades verdadeiramente amadores, tocam êxitos passados. Com as horas a passar as ruas parecem a jersey shore. Sentados no lancil do teatro da vila, Ela está ao meu lado direito. Ninguém nasce escritor. Devias criar um blog e escrever todos os dias, dizem-me. Sorrio em silêncio. Ela dá-me a mão e aperta-me mais os dedos. Pois, é verdade, mas há pessoas que simplesmente gostam de escrever. É a minha resposta.  
  
Ninguém nasce escritor, insistem em dizer-me. É verdade digo. Só escreve quem sente, depois de ler e a vontade nascer. Ela pega na minha mãe e levantamo-nos. Já venho, vamos comprar uma fartura. Vamos pela rua cheia de pessoas alegres e a fingirem-se alegres. O barulho da música e das barracas. E do palco lá ao longe. E eu meto-me conversa com ela. Sabes, isto era um bom cenário para a música dos Daughter. Não tem nada a ver, diz-me ela. Tal como ser preciso um blog para se escrever? Ela sorri e apoia a cabeça no meu ombro.
 
Quando me volto a sentar o meu amigo pergunta-me, sobre o que gostava de escrever. Penso durante um bocado. Ela está sentada a falar com uma amiga enquanto termina a sua fartura. Sobre Ela, respondo. AH? Diz o meu amigo. Sobre Ela, volto a dizer.
 
E hoje, recordei tudo isto. Porque fui à Fnac, onde passo quase a cada dia, intercalando com a Bertrand e outras livrarias no Chiado. Há quem vá ver montras eu vou ver livros. E ténis, é verdade. Vejo também sapatos. Alias, sobre os sapatos, explicam bem a diferença entre homens e mulheres. Mas hoje foi dia de ir ver livros. E dedicar atenção aos portugueses. Mizé? É uma personagem de um livro que hoje descansa na secretária à espera que o dia termine para voltar a abrir a capa e ler.
 
A vida no meio da tabela. E porque neste sábado, lá na aldeia e na festa, me lembrei desta frase. A frase remota ao meu nono ano. Onde escrevi pela primeira vez, com noção disso, um conto. Escrevi à mão. Não existe já fisicamente qualquer prova. Apenas o que a minha memória. Talvez se abrir um blog e escrever todos os dias consiga reproduzir o que escrevi.     

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